Abrigo-me por instantes num café movimentado da rua Uruguai e sintonizo a conversa de duas senhoras sentadas na mesa mais próxima:
– Agora não existe mais isto de maturidade, melhor idade, terceira idade ou coisa do gênero. Aprendi que nós estamos vivendo a envelhescência – diz uma das vozes.
Ouço o clique da xícara no pires e uma interjeição de susto da interlocutora, que quase grita:
– Cruz, credo! Prefiro velhice mesmo.
Se eu fosse um bisbilhoteiro menos tímido, teria sugerido:
– Senhoras, que tal tranquilidade?
Mas fiquei na minha. Terminei o café e saí sem olhar para trás.
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Esta outra foi relatada pelo jornalista Ayres Cerutti, experiente setorista do Centro Histórico e dos seus arredores. Ele encontrou o ex-presidente da OAB/RS Nereu Lima conversando com o anjo platinado que interpreta a estátua viva da Rua da Praia:
– Até o anjo precisa de assessoria jurídica! – comentou Ayres.
Ao que o criminalista, rápido no gatilho dos neurônios, respondeu:
– O advogado é que está precisando da ajuda do anjo.
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Na frente de uma banca de sucos da Praça XV, a menina de cinco ou seis anos observa atentamente o rosto de sua acompanhante, uma jovem senhora de olhos claros como o dia, e pergunta de supetão:
– Tia, tu enxerga tudo azul?
O sorriso da moça iluminou ainda mais o dia, que estava pintado de todas as cores.
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Já esta outra fui buscar no passado. Porém, como fui testemunha ocular da história, nunca mais a esqueci. Meninos de sete anos, meus vizinhos na periferia da Zona Sul, brincavam na rua e um deles começou a provocar o outro. Lá pelas tantas, o provocado partiu para as vias de fato, como se dizia naqueles tempos pretéritos. O provocador, ladino, correu para o pátio de sua casa, bateu o portão e ficou fazendo caretas para o insultado, que reagiu com impropérios extraídos do seu ainda incipiente vocabulário:
– Medroso! Cagoso! Mijoso!