Querido amigo, aqui vai mais uma cartinha para leres até o Natal, juntamente com as dezenas de outras que crianças e adultos continuam te encaminhando com pedidos que vão da bicicleta ao celular de última geração. Sei que tentarás atender a algumas dessas demandas pessoalmente e que repassarás outras para pessoas igualmente comprometidas com a compaixão e o espírito natalino, próprios dos corações solidários nesta época do ano. Sei, também, que, mesmo na impossibilidade de atendê-las, não deixarás de ler com atenção cada uma das cartas que te forem entregues por meninas e meninos esperançosos. Pelo privilégio de te ter como vizinho de bairro e de desfrutar da tua amizade, sou testemunha declarada e voluntária de tuas ações e intenções.
Por isso, minha carta não é um pedido. É um agradecimento.
Quero te agradecer pelos muitos anos de papainoelado, se me permites chamar assim esse verdadeiro sacerdócio de todos os dezembros da tua maturidade. Eu te agradeço em nome de todas as crianças pequenas que, do alto dos teus joelhos, te lançam olhares de espanto e admiração. Eu te agradeço em nome de outras tantas que te entregam o bico em troca do pirulito consolador – rito de passagem sempre doloroso para o doador e o receptor. Eu te agradeço em nome dos ingênuos e dos desconfiados, dos que te temem e dos que te amam, dos que te fazem confidências e dos que contam vantagem, dos que te pedem o impossível e também daqueles que emudecem diante do teu olhar sempre doce e compreensivo.
É mesmo misterioso o país da infância, como já disse um pequeno príncipe, mas felizmente, caro amigo, tens o dom de transitar por esse território distante, com barbas longas e roupas extravagantes, sem provocar maiores assombros dos nativos.
Te agradeço, também, em nome dos adolescentes que te desdenham por conta das sempre enigmáticas imposições da idade, mas que invariavelmente te observam a distância com indisfarçável simpatia. Te agradeço, igualmente, em nome dos adultos que te respeitam como a uma autoridade, que te passam procuração informal para aconselhar os filhos e fazem questão de posar ao teu lado como quem idolatra um herói de antigos tempos. E te agradeço, principalmente, em nome dos idosos, que te reconhecem como um membro carismático desse resistente exército de grisalhos, especialmente dos esquecidos e solitários. Mais de uma vez, tive a oportunidade de te ver entre eles, promovendo a magia da regressão de idade pela terapia do abraço.
Te agradeço, ainda, pela vizinhança amável que dá um charme especial ao nosso bairro, especialmente quando dizes que moras na Lapônia. E aproveito para estender minha gratidão a todos os homens e mulheres que exercem essa arte em vermelho e branco de tornar o Natal mais encantador.
Papai Noel Laércio e todos os outros, que o aniversariante do dia 25 vos abençoe e proteja por tão bem representá-lo entre nós.
