– Alô, Rede Globo! Alô, Brasil!
–Sim, já coloquei o celular na horizontal, deitado, como diz o Bonner para não deixar dúvidas, pois – triste realidade! – há muitos brasileiros que não sabem distinguir horizontal de vertical (de pé). Meu nome é Nílson (não posso esquecer esta parte), e estou falando de Porto Alegre, a minha cidade natal. Não, a imagem que aparece atrás de mim não é a Usina do Gasômetro, nem a Ponte do Guaíba, a Catedral Metropolitana ou qualquer outro desses lindos monumentos da nossa Capital. É uma escola pública. Chama-se Dr. Ferreira de Abreu e fica no bairro Sarandi, na Zona Norte, antigo reduto de operários, hoje um aglomerado urbano gigantesco formado por muitas vilas regulares e vários loteamentos clandestinos. Foi nessa escola que aprendi a ler, a escrever, a fazer contas e a diferenciar horizontal de vertical. Sem pagar um centavo, até mesmo porque meu pai era leiteiro e mal ganhava o suficiente para garantir o leitinho da gurizada, com perdão do trocadilho. Mas todos nós, eu e meus irmãos, estudamos nessa escola, que não era de tijolo à vista como é hoje, nem jamais esteve pichada como está. Na época, a garotada aprendia em casa que não se toca em bem alheio e que o que é público é de todos. Nossa escolinha era uma construção de madeira antiga, em outro ponto do bairro, tão precária, que bebíamos água tirada de um poço no centro do pátio. Água encanada, naquele tempo, nem pensar.
Mas o Ferreirinha, como carinhosamente o chamávamos, foi a nossa janela para o mundo. Com um grupo de professores abnegados – que certamente também ganhavam mal, mas acho que recebiam em dia, pois jamais houve interrupção de aulas por greve –, aprendemos tudo o que precisávamos para seguir adiante na vida. Muitos de nós – e agora falo de todos os alunos – saímos capacitados para as etapas seguintes da educação formal e, posteriormente, para a universidade.
Mesmo os que não continuaram estudando receberam da escola base intelectual e moral suficiente para construir seus próprios futuros. Isto me faz lembrar que o motivo desta gravação imaginária é dizer que Brasil eu quero para o futuro. Que tal um Brasil voltado para o futuro do futuro, em que as crianças recebam proteção (e limites) em casa, ensino qualificado na escola e, na vida, o desafio permanente de construir um país melhor?
– Como? Passei dos 15 segundos? Meu vídeo não vai entrar? Sem problema. Alguém, com maior capacidade de síntese, certamente contará uma história parecida para lembrar que só com educação de qualidade haverá futuro para o nosso país.