Acender os faróis e apagar a Tocha. Entre esses dois apelos – um, regrado pela lei, destinado a proteger vidas; outro, transgressor, com o propósito de perturbar a solenidade olímpica e protestar por causas difusas –, os brasileiros começam a segunda metade do ano. Estamos mesmo vivendo um período de luzes e sombras, talvez com mais sombras do que luzes.
Minha primeira reação à lei dos faróis ligados foi de contrariedade. Pensei, como muitas outras pessoas, que se tratava apenas de mais um pretexto para arrecadar, pois é só nisso que os administradores públicos pensam nesta época de crise. Porém, depois de ler bastante sobre o assunto e de ouvir especialistas, revisei minha posição. Se o alerta das luzes acesas servir para evitar um só acidente e salvar alguma vida, já terá valido a pena.
Mas ainda penso que o período de advertência poderia ser maior e que as estradas deveriam ser poluidamente sinalizadas com placas em letras maiúsculas e gritantes: SALVE VIDAS, ACENDA OS FARÓIS!
Quanto à Tocha, não contem comigo para essas manifestações infantojuvenis de atentar contra o fogo olímpico com baldes de água, extintores de incêndio ou mesmo bexiguinhas. Tenho o maior apreço pela chama que simboliza a paz, a união e a amizade entre os povos. Não ignoro que, segundo a mitologia, essa história começou com uma transgressão – o roubo do fogo de Zeus por Prometeu –, mas o propósito era proporcionar luz e calor aos mortais. E agora, o que move esses penetras que invadem cerimônias públicas para apagar a chama? Pode ser até que alguns tenham motivações políticas ou queiram questionar a comercialização dos Jogos, mas suspeito de que a maioria quer apenas aparecer, conquistar um instante de fugaz notoriedade para sua vida sombria.
Prometeu pagou com o fígado sua insolência. Segundo a lenda, foi sentenciado por Zeus a ficar acorrentado a uma pedra, enquanto uma grande águia bicava seu fígado, que se regenerava no dia seguinte. Já nestes tempos insanos, o ato de apagar a Tocha nem pode ser enquadrado como crime. Mas ai de quem não acender os faróis. Zeus nos acuda!