Este é um texto sobre solidão, epidemia invisível destes intrigantes tempos em que temos milhares de amigos nas redes sociais e nenhum capaz de nos compreender pelo olhar.
Estudo feito pelo professor John Cacioppo, da Universidade de Chicago, indica que uma em cada três pessoas nos países ocidentais sente-se sozinha habitualmente ou com frequência. A solidão crônica é vista por especialistas como uma questão de saúde pública, atinge pessoas de todas as idades, mesmo aquelas que têm família e vivem rodeadas de gente. O solitário sente-se socialmente isolado, não consegue estabelecer conexão com ninguém e, muitas vezes, resigna-se a essa condição.
E sofre por causa disso. De acordo com o estudo referido, os solitários tendem a ser mais angustiados, deprimidos e hostis – não porque querem, mas devido a uma reação natural do organismo. Quando nosso cérebro entende o entorno social como pouco amistoso, permanece em constante estado de alerta. A longo prazo, essa hipervigilância cobra um preço em esgotamento físico e vulnerabilidade para doenças.
Mas a solidão também pode induzir à criatividade, desde que o indivíduo tenha confiança suficiente para encarar a sua condição de excluído. Pessoas que não se importam com o que os outros pensam delas têm mais abertura para ideias novas.
Não tenho a pretensão de dizer que é meu caso, mas gosto de me isolar de vez em quando com meus livros e meus pensamentos. Escrever, por exemplo, é um ato solitário. Porém, uma boa parceria também pode render maravilhas, como se pode ver (e ouvir) nesta canção que o uruguaio Jorge Drexler e a brasileira Maria Rita cantam juntos, exatamente sobre solidão. "Soledad, aqui estan mis credenciales,/ vengo llamando a tu puerta desde hace un tiempo,/ creo que pasaremos juntos temporales,/ propongo que tu y yo nos vayamos conociendo." (zhora.co/drexlersoledad).
Quem pode sentir-se sozinho ouvindo uma preciosidade dessas?