Fanny Abramovich, que é uma excelente escritora de livros infantojuvenis, escreveu uma carta-crônica emocionante para Dona Licinha, a professora da sala ao lado. Reconto o início para despertar a curiosidade de quem se interessa pelo assunto: "A senhora não me conhece. Faz tanto tempo e me lembro de detalhes do seu jeito, sua voz, seu penteado e roupas... A senhora ensinava na 3ª série B e eu era aluna da 3ª série C no Grupo Escolar do Tatuapé... Passava no corredor fazendo figa para mudar de classe, pra minha professora viajar e nunca mais voltar, pra diretora implicar e me mandar pra 3ª B... Nunca tive tanta inveja na minha vida como tive das crianças da série B...".
Paro por aqui. Mas no final deste texto dou o endereço de rede para quem quiser ler toda a história. Vale a pena. É a minha dica de leitura para professoras e professores das escolas estaduais que suspenderam momentaneamente suas atividades para protestar por condições dignas de trabalho. E também para os que optaram por continuar trabalhando, mesmo com o salário minguado e parcelado que recebem a cada mês.
Gostaria que ela fosse lida também pelos meninos e meninas que resolveram acampar nas escolas, em solidariedade aos professores ou para reivindicar consertos nos prédios. Não aprovo o autoritarismo e a imposição de restrições aos direitos dos outros, mas também me incomoda – e muito – saber que estudantes frequentam escolas caindo aos pedaços, a ponto de chover dentro de sala de aula. Então, já que estão mesmo com algum tempo livre, aproveitem para ler a carta endereçada à Dona Licinha.
É uma historinha simples, de uma criança que ambiciona estudar na sala ao lado da sua. Em cada frase que expressa esse desejo, porém, há uma revelação sobre o encanto de ensinar e aprender. Mais do que isso: a carta de Fanny Abramovich acaba sendo uma linda e poética homenagem a uma das mais sublimes profissões de todos os tempos.
Se você quiser saber o que se passa na sala ao lado, consulte bit.ly/licinha.