A exclusividade nos fascina. Somos muitos, e muito semelhantes uns aos outros. Por isso, almejamos a unicidade, a diferenciação, o jeito só nosso de ser, mas de modo que os outros percebam. Náufragos solitários, artistas inigualáveis, atletas imbatíveis, todos esses fenômenos de individualismo extremado mexem com a nossa imaginação. Como não olhar com interesse para aquele sujeito que ficou sozinho em Marte, esquecido pelos companheiros de excursão planetária?
Fiquei pensando nisso quando li sobre a italiana Emma Morano, que nasceu em 29 de novembro de 1899 e hoje é reconhecida como a única pessoa viva que veio ao mundo no século 19. Quando dona Emma nasceu, sequer existiam aviões. No ano passado, quando fez 116 anos, recebeu um cumprimento do papa Francisco – e lembrou que 10 outros papas passaram por sua vida. Lúcida, ela conta que tem saudade da irmã, que morreu com 107 anos, e da mãe, que viveu até os 91. A longevidade da família despertou o interesse da Universidade Harvard, que está estudando seu DNA.
Mas ela garante que não tem um elixir da longa vida, embora atribua parte de sua saúde à dieta alimentar: três ovos por dia, carne moída crua e apenas leite com biscoitos no café da manhã. Trabalhou até os 75 anos e mora sozinha no segundo andar de um edifício que não tem elevador.
Sobrevivente de três séculos, é compreensível que a anciã desperte a curiosidade da imprensa e dos cientistas, pela sua condição de raridade na espécie humana. Quando os jornalistas lhe informaram que passara a ser a pessoa mais velha do mundo, ela exclamou:
– Caramba! Sou velha como as montanhas.
Boa comparação. García Márquez disse que todo ser humano quer viver no topo das montanhas, mas a verdadeira felicidade consiste em escalá-las. E cada um de nós faz o seu próprio caminho. Nisso, mesmo que não percebamos, somos sempre únicos. Ninguém pode viver a nossa vida por nós.