Se valesse a amostragem só de terça e quarta-feira passadas, Grêmio e Inter estariam aterrorizando suas torcidas com desempenhos e resultados pífios. O campeão gaúcho perdeu merecido do Huachipato, o outro gigante que sequer foi à final do Gauchão empatou com um time que nunca tinha atravessado a fronteira boliviana para jogar futebol.
Felizmente, o futebol é dinâmico o suficiente para não balizar o futuro só por um fator ou por uma amostra, ainda que recente. O Juventude jogará um campeonato diferente daquele que a dupla Gre-Nal pretende disputar.
Se o vice-campeão gaúcho ficar em 16º lugar, terá conquistado uma espécie de título que não dá direito a faixa no peito nem taça no armário, só a continuar na Série A para 2025. Embora escrito assim pareça pouca coisa, não é.
Roger Machado vai ganhar reforços, promessa do presidente Fábio Pizzamiglio, que viu saltar de 25 milhões para 100 milhões seu orçamento para o futebol. Ainda que prometa investir em mais qualidade, será improvável que o Juventude surpreenda tanto a ponto de disputar vaga de Sul-Americana ou Libertadores.
Os desafios da dupla Gre-Nal
Renato Portaluppi e Eduardo Coudet terão caminhos mais complexos por conta da grandeza dos clubes em que trabalham. O Grêmio, envolvido na Libertadores da América, terá uma dificuldade adicional que não imaginava viver antes de subir a montanha em La Paz e, especialmente, de perder em casa para o Huachipato.
Com zero ponto em dois jogos, terá jogado três partidas pelo Brasileirão até enfrentar o Estudiantes de la Plata na Argentina e decidir que futuro terá na competição sul-americana. Se perder lá, virtualmente se elimina da Libertadores e o Brasileirão ganharia então outro peso.
É uma espécie de encruzilhada da qual Renato pretende sair ileso ou quase. Não terá reforços para tão dura missão. Sua direção está prometendo mais qualidade só na janela do meio do ano. Pode ser tarde para a Libertadores, pode ser meio tarde para o Brasileirão e até para a Copa do Brasil. O treinador já passou por cena igual ou pior em outros momentos de sua estada no Grêmio, o que lhe dá crédito e serenidade para encontrar soluções.
No entanto, o fato de que sempre soube sair da enrascada não é garantia de que sairá de novo. Não há Suárez para ser uma espécie de comandante em campo. Ao mesmo tempo, o ataque é o melhor setor do time no oposto a uma defesa que toma gol contra qualquer calibre de adversário.
O treinador gremista é audaz e costuma encarar o desafio de sempre precisar fazer muitos gols para compensar os outros tantos que toma. Combinemos, porém, que a tarefa é especialmente difícil porque basta uma noite fora da curva em que o ataque não converta as chances para o pior acontecer. Foi assim terça-feira (9) contra o Huachipato.
Se Renato começa no seu amado Rio de Janeiro a trajetória do Grêmio contra o Vasco em São Januário e depois jogará duas partidas em casa contra Athletico-PR e Cuiabá, Eduardo Coudet vive dias de aflição, questionamento e desconfiança. Se a eliminação para o Juventude no Gauchão já tinha sido dura e dolorosa diante da expectativa criada pela contratação de tantos bons reforços, o empate patético contra o Real Tomayapo tornou tudo mais grave.
O trabalho de Coudet, no primeiro ciclo que se completou quarta-feira (10) no Beira-Rio na Sul-Americana, acabou. Não está impedido de começar de novo noutros termos e de recomeçar do zero de forma fulminante até o título do Brasileirão ou da Copa do Brasil. Para isso, terá que reinventar-se.
A impressão nítida que passa Coudet é de que perdeu a mão do grupo. Seu nome, antes intocado junto à maioria da torcida, foi vaiado no alto-falante antes do empate com o time boliviano. Suas entrevistas ininteligíveis após maus resultados soam cada vez menos lógicas, ainda que uma ou outra pergunta fique na fronteira do desrespeito.
O treinador colorado não sinaliza qualquer correção de rumos ou que assumirá em algum momento a responsabilidade que lhe cabe. Afinal, não há como isentar o comandante se sua equipe tanto menos desempenha quanto mais treina. Tampouco se leva livre um elenco caro e qualificado que, ao invés de indignar-se e envergonhar-se por tanto dever aos colorados, parece trotar como resposta à tanta frustração que causa a quem veste vermelho.
O Beira-Rio, neste sábado (13), se assemelha a um barril de pólvora. O Bahia está devendo à sua torcida também, dinheiro demais para resultado de menos. Rogério Ceni sente a pressão, os caríssimos jogadores contratados estão sendo cobrados por quem tanto dinheiro colocou no clube baiano. Logo, não chega a Porto Alegre uma equipe enfeitada pelo título regional. Quem desembarcou no Salgado Filho foi um time sob desconfiança precisando responder imediatamente a quem nele investiu.
Inter x Bahia se reveste de um apelo dramático que não teria se ambos tivessem exercido o favoritismo que detinham quando começaram os campeonatos gaúcho e baiano. Quem perder acenderá a chama da crise de proporções imprevisíveis, em especial, o anfitrião. O empate frustra a ambos. A vitória sutura a ferida aberta, mas não fecha a cicatriz.
Prioridades
Até o Flamengo milionário terá que fazer escolhas quanto às competições que disputará em 2024. Foi a sinalização de Tite após a vitória um tanto burocrática sobre o Palestino no Maracanã quarta-feira. Mesmo com um elenco espetacular, o treinador se viu obrigado a dar uma espécie de luz alta à sua direção.
Tite quer saber qual competição é prioritária para traçar planos de conquistá-la. Só mesmo a autoridade de quem ganhou o grupo de jogadores e o primeiro título da temporada dá legitimidade ao técnico de prensar a pretensiosa diretoria flamenguista contra a parede.