Se há uma trajetória bonita de jogador neste momento da dupla Gre-Nal, Edenilson seria meu escolhido. O volante do Inter se transformou em meio-campista, conceito mais amplo de quem consegue fazer muito bem todas as funções de quem joga no setor. A transformação foi paulatina. O jogador, que chegou em 2017, não desembarcava da Udinese como titular do Inter. Já tinha mostrado ser útil no Caxias, melhor segundo volante do Gauchão de 2011. No Corinthians, fez 82 jogos e dois gols de 2011 a 2014. Era bom reserva para o meio e para a lateral, Tite gostava de tê-lo por perto.
A carreira de Edenilson era digna. Passagem por dois clubes italianos sem brilho especial, camiseta pesada de clube grande brasileiro, mas parecia ter batido no teto quando começou a jogar no Beira-Rio. Veio para somar experiência ao time na Série B e foi bem. Em 2018, de volta à Série A, o Inter de Odair Hellmann tinha em Edenilson um jogador confiável no corredor direito, mas ainda longe de passar de coadjuvante a protagonista. Agora, em agosto de 2019, o meio-campista enche os olhos e está cotado, sem absurdo algum, para a Seleção Brasileira.
Muito trabalho é a melhor explicação para o avanço como futebolista. Contra o Cruzeiro, jogo em que fez o gol da vitória, o índice de acerto de passe foi a 96%. Não era um quesito especialmente bom de Edenilson. Na área, entrava de vez em quando em tempos passados. Pela própria leitura de jogo e certamente a pedido do seu treinador, passou a ingressar na zona nobre de conclusão com frequência. Agregou drible, outro fundamento em que nunca havia antes chamado a atenção. Sempre teve vigor e velocidade para correr de área a área. Seu futebol de hoje tem muitos outros atributos sobre estes dois que já existiam desde que começou a jogar na base do Guarani de Venâncio Aires, em 2008.
Eu arriscaria uma explicação para a evolução sólida e permanente de Edenilson. Ele não perdeu a fome de bola que leva alguém a decidir ser jogador profissional. Pelo contrário, foi ficando mais faminto à medida em que a carreira andava. Família consolidada, bom de grupo, teve há menos de dois meses a possibilidade de enriquecer as futuras gerações indo para a Arábia. Não pareceu impactado quando o Inter deixou claro que a proposta para o clube não era boa o suficiente. Sensato, soube ler o contexto em que, pela primeira vez na carreira, virou protagonista de um gigante brasileiro. Não bastaria, claro. O Inter ampliou em um ano seu contrato, que agora vai a dezembro de 2022. Em "executivês", o clássico negócio ganha-ganha. Esta é a chave do sucesso de uma carreira profissional, esportiva ou não. Se você não perder a fome de bola na sua área de atuação, a chance de ser bem-sucedido é muito maior.
Edenilson sofreu lesão muscular na quarta-feira passada, e não se tem notícia de quando poderá voltar. Se ficar de fora dos duelos contra o Flamengo, pela Libertadores, será um prejuízo e tanto. A torcida terá dias de ansiedade à espera do retorno de seu novo e inesperado ídolo, o que deve acontecer para contra o Cruzeiro.
Se D'Alessandro continua sendo a referência técnica, Edenilson se equipara em importância porque, ao contrário do parceiro superstar, nunca teve a titularidade determinada pela geografia. Felizmente para o Inter, o treinador cancelou esta limitação para o argentino. Mas Odair tem em Edenilson o seu ponto de equilíbrio.