Uma conversa com quem torce para o Inter pode levar o interlocutor a muitos quadrantes diferentes. Antes do primeiro Flamengo x Inter no Maracanã, Odair Hellmann vivia junto à torcida seu melhor momento. Seu time havia vencido o Cruzeiro fora de casa na Copa do Brasil, Guerrero vivia o encantamento de chutar no gol e a bola entrar, D'Alessandro apresentava um esplendor físico inesperado.
A derrota de 2 a 0 para o Flamengo, porém, desfez o encanto parcialmente. A derrota de virada com os reservas para o Goiás, que tinha um jogador a menos, aumentou o tom da desconfiança, mas houve uma trégua no treino de véspera da decisão de vaga com o Flamengo, quando 10 mil colorados foram ostentar apoio ao time para a noite seguinte.
Então, veio o combo que detonou ao alto a paciência da enorme maioria de colorados e coloradas com quem tive contato desde a eliminação na Libertadores. Primeiro, a classificação épica do Grêmio em São Paulo diante do Palmeiras. Depois, e mais grave, a falta de ousadia do time que mal fez frente ao Flamengo no Beira-Rio.
Esperava-se um Inter parecido com o que eliminou o Palmeiras, audacioso e capaz de orgulhar sua torcida. O que se viu, no entanto, foi uma equipe mal escalada e cautelosa em excesso, o que soou como traição à expectativa dos torcedores. Odair Hellmann depois foi ao outro extremo e ousou ao ponto de trocar um zagueiro por um meia-atacante que, ironia, perdeu a bola que gerou o contragolpe do gol do Flamengo. Nas redes sociais, os vilões estavam escolhidos.
O que argumento a leitores e leitoras que vestem vermelho é que precisam imediatamente retomar a esperança de pouco mais de duas semanas atrás. A vantagem sobre o Cruzeiro é boa, o Inter está a 90 minutos da final da Copa do Brasil. Se a torcida descolar do time à esta altura, a consequência pode ser desastrosa. Não é justo demonizar Odair, seria cruel odiar Sarrafiore.
Guerrero está jogando menos do que já jogou, só que depende de ser servido e o time parou de abastecê-lo. Evidentemente, não basta a torcida dar apoio incondicional. Urge que o treinador corrija erros recentes que passam por escalação e estratégia equivocadas. Ele precisa sinalizar que tem ouvidos e sensatez para perceber que, embora mais acerte do que erre em sua trajetória no Inter, andou errando em momentos onde acertar era ouro.
O jogo deste sábado pelo Brasileirão contra o Botafogo entra como estorvo para o Inter. A derrota inaceitável para o Goiás domingo passado, no entanto, não permite que se trate a partida como se nada valesse. O dilema colorado é este. Marcelo Medeiros, Roberto Melo e Odair Hellmann não têm faixa no peito na gestão. Ao mesmo tempo, o trabalho deles têm valor e não pode ser desprezado por conta da falta de taças recentes no armário.