Desde 2015 não acontecia uma decisão de Campeonato Gaúcho com os dois gigantes. Naquela temporada, o Inter foi o campeão gaúcho e semifinalista da Libertadores. O Grêmio começou, no segundo semestre, uma revolução conceitual. Roger Machado iniciou, Renato Portaluppi aprimorou no ano seguinte a ponto de levantar a taça da Copa do Brasil. O que aconteceu depois está bem vivo na memória de colorados e gremistas, que viveram emoções extremas e distintas nos últimos anos.
Neste contexto, dois protagonistas também opostos se encontram neste domingo. No Inter, a resposta rápida e avassaladora de Paolo Guerrero faz dele o personagem principal, mesmo que Nico López e D'Alessandro estejam em campo. Grato ao clube que acreditou nele, animado pelo carinho do torcedor e confiante com a acolhida dos companheiros, Guerrero está rendendo acima de qualquer expectativa otimista. Os colorados não estavam acostumados, em tempos recentes, a torcer por um centroavante tão diferenciado. A arte do cabeceio, o pivô que não deixa zagueiro antecipar, o giro de corpo previsível e nem assim evitável pelo defensor, a frieza glacial na hora de chutar no gol, tudo faz de Guerrero um camisa 9 raríssimo.
A consequência é um entusiasmo espantoso que conecta arquibancada e time. A corrente que faz esta energia fluir chama-se Paolo Guerrero. Quem fez todos os gols do título mundial do Corinthians no Japão não se assustará com o primeiro Gre-Nal. O atacante enfrentará a melhor dupla de zaga da América Latina. É verdade que Geromel e Kannemann já viveram melhores dias, mas não se trata de decadência e, sim, de fase. O duelo entre zagueiros tão bons e um centroavante tão perigoso é uma das atrações deste clássico.
O protagonista do Grêmio é Jean Pyerre e não faltam razões. O meia assumiu o lugar e a função do cara que, dois anos atrás, foi eleito o melhor jogador da América do Sul e teve o nome pedido para a Copa da Rússia por parte da imprensa brasileira. Luan se machucou, caiu de produção, voltou em 2019 prometendo retomar o padrão ao qual acostumou todo mundo e a promessa não se cumpriu até agora, a ponto de Renato Portaluppi tê-lo afastado para treinos especiais.
Jean Pyerre lidou com a tarefa como se fosse a coisa mais simples do mundo. Contra São Luiz e Rosario Central, foi o melhor jogador em campo ao agregar presença de área ao seu futebol de passe e movimentação. É daqueles meias cada vez mais raros na formação de base no Brasil. Armador na mais completa definição da palavra. Não está pronto, o que o treinador não cansa de repetir para não deixar a soberba ganhar corpo no menino. Falta regularidade dentro do jogo, falta dosar a energia. O que sobra, combinemos, é uma enorme qualidade técnica. No segundo clássico do Brasileirão 2018, entrou no segundo tempo e melhorou a atuação geral do time. De lá para cá, sua presença entre os 11 foi se impondo naturalmente. O que não se imaginava é que entrasse justamente na vaga de Luan. Jean Pyerre em campo no domingo é certeza de passe certo no meio-campo.
Os coadjuvantes
Se Guerrero e Jean Pyerre são os protagonistas do clássico, Everton e Nico López vêm logo abaixo como brilhantes coadjuvantes. Não fosse o momento especial vivido a quem atribuí protagonismo, seriam eles os nomes mais reluzentes do Gre-Nal. O atacante do Grêmio interessa a Pep Guardiola, não precisaria ir adiante para explicar o quanto Everton está acima da média no Brasil. Se quiser mesmo um segundo argumento, basta perguntar a Tite por que está convocando o jogador do Grêmio regularmente.
Nico, por sua vez, alcançou a plenitude do seu jogo sob as mãos de Odair Hellmann. Hoje em dia, atua nos dois corredores, funciona por dentro, dribla, faz gol e dá assistência. Com toda razão, o atacante colorado vive a expectativa de ser convocado pelo Uruguai para a Copa América. Vejam só, leitores, o tamanho do duelo que teremos no Beira-Rio neste domingo.
Na RBS
Sábado, às 14h, a RBS TV exibe o Gauchão Raiz, programa de uma hora sobre tudo que aconteceu até agora no campeonato e, claro, sobre a grande decisão que começa domingo. A Rádio Gaúcha já estará no ar com programa especial desde às 13h. Às 14h, passa a transmitir o Gauchão Raiz em parceria com a RBS TV.
Domingo, a Gaúcha começa de manhã a falar do clássico no Domingo Esporte Show às 9h30min. À tarde, a RBS TV mostra ao vivo o primeiro Gre-Nal da decisão do Gauchão. Em gauchês, vamos lá: tu não me perde esta programação da RBS mas de jeito nenhum, tchê!