Tenho profunda admiração pelos presidentes de Grêmio e Inter. Entendo que Romildo Bolzan Júnior e Marcelo Medeiros fazem gestão responsável e se comportam com extrema lealdade na rivalidade histórica e eterna do Gre-Nal.
Marcelo trouxe o Inter de volta a seu lugar, a Série A. Tem eleição no fim do ano para presidente, não fala em reeleição, embora eu aposte que ele vai, sim, tentar novo mandato, o que é seu legítimo direito.
Romildo ganhou Copa do Brasil, Libertadores e Recopa, é autoexplicativo. Perdeu peso, está elegante, chegou de blazer ao bar em que gravaríamos o Botequim do Maurício que vai ao ar neste sábado no Globo Esporte.
Marcelo Medeiros chegara pouco antes, tirara o casaco para entrar no clima de boteco no set de gravação na Cidade Baixa. Na chegada de Romildo, cobrou: pô, Romildo, não vai querer gravar Botequim de blazer!. Romildo devolveu: se você quiser, eu vou só de camisa, está tudo certo. Amigos de adolescência, Marcelo e Romildo, como se tratam, abraçaram-se e começaram a falar do clássico do domingo.
Futebol é para estreitar laços de amizade ou ameaçar laços de amizade?
Romildo - É para reforçar laços de amizade. Marcelo e eu nos conhecemos desde o colégio em que estudamos juntos, depois na faculdade. Não somos inimigos e sim adversários. Na vida pessoal, amigos. Sempre olhava o Marcelo e lembrava do pai dele dirigente do Inter nos anos 70, filho de dirigente, era um carteiraço (risos). E como dirigentes, temos muito mais coisas em comum a defender para a dupla grenal do que as pessoas pensam.
Marcelo - lembro de ir na casa do Dr. Romildo, pai do Romildo, para tomar cerveja com os amigos e produzir ideias que salvariam o mundo. Tempos de adolescente e de jovem, muita vontade de transformar a humanidade...Só acredito em futebol com respeito. Foi numa reunião de colorados em que um deles disse assim: temos que acabar com torcida mista, põe esta gremistada pra lá...quando ele parou de falar, perguntei: em que mundo tu vive?
Uma lembrança de Gre-Nal
Romildo - uma derrota em 1969, quando o Inter foi campeão gaúcho. Doeu muito ver o 2 a 1 deles no Olímpico. Outra foi o 5 a 2 do Inter em 1997, quando levei meu filho ao estádio pela primeira vez. Em compensação, como não falar do 4 a 1 de 2014 na Arena e do 5 a 0 no ano retrasado na Arena também? O vestiário, depois de uma vitória dessas, fica numa euforia que contagia todo mundo, é incrível.
Marcelo - Eu me lembro deste 4 a 1 da final do Gauchão no ano da Copa, mas a lembrança mais forte foi o Gre-Nal de inauguração do Beira-Rio em 1969, um 0 a 0 com briga generalizada entre os jogadores. Eu vi aquilo no estádio e pensei: não é por aí. Mas o que sempre lembro de Gre-Nal é que não dá para sair de casa quando perde. Ainda mais se o cara for dirigente. Afeta a vida pessoal, sim, é muito forte.
É possível pensar em tentar evitar Gre-Nal imediatamente na próxima fase?
Romildo - Impossível. O melhor time do Grêmio vai estar em campo, o melhor time deles vai estar em campo. Estádio cheio, Gre-Nal sempre tem valor mesmo quando vale pouco ou nada. Não vamos administrar de jeito nenhum, mas é claro que eu não queria Gre-Nal já nas quartas-de-final. Acho que o Gauchão empobrece se Grêmio ou Inter cai fora tão cedo do campeonato.
Marcelo - Não há a menor possibilidade de administrar resultado em Gre-Nal para evitar mais dois clássicos imediatamente. Faz dois anos que não jogamos Gre-Nal no Beira-Rio. Eu quero ganhar, o Romildo também.
Uma história boa de Gre-Nal
Romildo - O pessoal do Financeiro não gosta nem de lembrar, mas já paguei bicho dobrado depois de vitória em Gre-Nal (muitos risos). Foi no 5 a 0 na Arena. Terminou o jogo e eu pensei: não vou descer imediatamente, alguém é capaz de pedir um reforço no bicho. Quando cheguei no vestiário, nem tinha começado a reza ainda, ouvi um pedido e não aguentei. Dobrei o bicho na hora!
Marcelo - Passei por situação parecida na final do Gauchão de 2014, quando vencemos em Caxias de 4 a 1. Quando entrei no vestiário, aquela alegria toda, alguém me pediu para aumentar o bicho já estabelecido. Resisti, não aumentei, valeu o que estava combinado. Mas que deu vontade, deu (risos).
Uma cena de arbitragem em Gre-Nal que vocês nunca esqueceram.
Romildo - Na final do Gauchão de 1982, o Carlos Martins expulsou o Renato (então atacante do Grêmio) com cinco minutos de jogo! Fiquei com 10, o Inter foi campeão ganhando de 2 a x0 com dois gols do Geraldão.
Marcelo - Em 1977, aquele pênalti no Olímpico em cima do Escurinho que o Agomar Martins marca fora da área depois de ter apontado para a marca do pênalti. O Grêmio ganhou de 2 a 1 e, mais tarde, seria campeão gaúcho.
Quem vocês temem/respeitam no time do outro para o Gre-Nal de domingo?
Romildo - O D'Alessandro. Ele tem a indignação do clássico, vibra com o jogo e é diferenciado. Tem uma história ótima com ele no 4 a 1 do Brasileirão na Arena. Vitória consolidada, ele vai para frente do Luiz Felipe, então técnico do Grêmio, e fica gesticulando e falando algo que eu não entendia lá de cima nas cadeiras. Depois, no vestiário, perguntei ao Felipão o que o D'Alessandro dizia. Olha só, o D'Alessandro dizia para o Felipão : "Você sabe o que é perder de goleada, sabe como é ruim, levou 7 a 1 da Alemanha! Já deu, já foi 4 a 1, agora chega!". Perguntei ao Luiz Felipe o que ele disse em resposta, Felipão falou que só riu da cena, nada mais (risos).
Marcelo - Quando o Luan está em campo, o Grêmio fica muito mais perigoso. É só ver o que ele fez na Libertadores, o reconhecimento que teve na América do Sul com o título, ele é muito bom. Eu podia ser politicamente correto e dizer que futebol é jogo coletivo, isso e aquilo, mas o fato é que com Luan em campo o Grêmio é mais forte.