Roberto Melo me recebeu na sala da vice-presidência de futebol no Centro de Treinamentos do Inter com um sorriso simpático no rosto. Gravei com ele o Botequim do Maurício deste sábado no Globo Esporte. Era só olhar a expressão do rosto do dirigente para concluir que o pior já passou, mas houve um pior, sim. Se o presidente Marcelo Medeiros ainda está tomando remédio para dormir mesmo depois da tempestade, Roberto Melo não chega a tanto, mas precisou contar com o apoio da mulher, Denise, quando a crítica era insistente. A conversa com ele rendeu bastante.
Como foi que a família ajudou você quando os colorados duvidavam se o Inter subiria ou não porque o time não convencia e os resultados não vinham?
— Eu tenho uma filha de 31 anos que me deu recentemente dois netos, minha alegria. Ela é muito colorada, minha mulher também. Contei muito com o apoio da Denise. Eu conseguia não dar atenção às críticas para poder continuar trabalhando com serenidade, era como se eu não ouvisse as críticas, mas ela se incomodava, lia, via e ouvia e vinha me contar: "você viu o que disseram agora de ti?". Até que um dia eu disse a ela: Denise, não me conta das críticas. Quando tu ouvir um elogio a mim, aí me conta!"". Ela foi fundamental pela paciência, por compreender a ausência nos momentos em que toda a minha atenção estava em resolver problemas no futebol do clube.
Falando nisso, a sala em que você trabalha logo será substituída por outra maior e mais confortável, né?
— Estão sendo investidos um milhão e meio de reais em obras para toda a estrutura do futebol. O Centro de Análise de Desempenho, o Centro de Análise e Prospecção de Atletas, a sala de musculação, a do vice de futebol e muito mais, tudo está sendo ampliado aqui mesmo no CT (quando me recebeu, Roberto Melo tinha aberto sobre a mesa o caderno de avaliação de desempenho do Santa Cruz). Haverá também um campo mais reservado para treinar bola parada.
Qual o momento mais difícil para você como vice de futebol?
— Quando chegamos, em janeiro, havia salários atrasados de dois a três meses, luvas, direitos de imagem... foi preciso restabelecer a confiança com os jogadores. A autoestima também estava baixíssima por causa do rebaixamento. Tivemos que agir rápido para não perder no mercado jogadores que queríamos contratar - caso específico de William Pottker - e levamos um tempo para ter a humildade necessária para disputar a Série B. No meio disso, tivemos que trocar de treinador não só pelos resultados, mas pela metodologia de trabalho. A parte mais difícil é justamente contratar o novo treinador para substituir o demitido. Os melhores estavam empregados, podiam ter resistência a começar trabalho no meio da temporada, ficam mais caros. É preciso contratar com convicção para não errar. Guto Ferreira fazia grande trabalho no Bahia, que até hoje não se acertou, segundo os baianos, justamente porque Guto Ferreira foi embora. Ele chegou e não teve tempo para treinar, era jogo e palestra. Os resultados e as atuações, por um tempo, foram muito ruins, o time tinha perdido a identidade de Antônio Carlos Zago e ainda não tinha a do novo técnico.
Guto Ferreira só será treinador do Inter em 2018 se for campeão da Série B ou basta subir entre os quatro primeiros?
— Temos com o Guto um contrato com renovação automática em caso de acesso, mas com multa rescisória caso uma das partes não quisesse exercer a renovação automática. Nossa convicção sempre é pela continuidade e não por trocar de treinador.
Não é otimista demais a projeção de que 70% do grupo será mantido para a Série A em 2018?
— Não vou mais falar em números. O que eu quis dizer é que temos uma base, situação completamente diferente do início deste ano, quando tivemos que renovar de 80 a 90% do grupo de jogadores. Trouxemos jogadores com contratos longos, como Pottker e Camilo, vamos exercer a compra do zagueiro Klaus e já temos tudo encaminhado para a permanência de Edenílson além de junho de 2018, quando termina o empréstimo. Faremos este investimento. Sabemos das carências, há jogadores que tentamos contratar este ano e não conseguimos e retomamos contato para tentar trazer para a próxima temporada. O Centro de Análise e Prospecção de Atletas (CAPA) neste momento mesmo está trabalhando, olhando vídeos de jogadores do país inteiro e do Exterior. Não dá para deixar para se mexer só no fim da temporada. Já estamos avaliando quem pode ser contratado, sim.
Haverá dinheiro para investir em futebol ano que vem o suficiente para o Inter ser candidato a título ou vaga de Libertadores?
— Trabalhos para isso. Assim que confirmar o acesso, se abrem perspectivas para o ano que vem de novas receitas.
Já ouvi de colorados que o Inter tem que subir, mas não com título porque títulode Série B é "coisa deles" - referência ao Grêmio campeão da B em 2005. Fiz o contraponto a estes colorados citando o bordão "Inter Campeão de Tudo". Logo, tem que ser campeão da Série B também. O que me diz o torcedor/gestor Roberto Melo sobre isso?
— O lema da nossa gestão é "Inter Clube do Povo", uma retomada da origem mais popular do Inter. O bordão "Inter Campeão de Tudo" foi uma bela sacada, mas ficou perigoso, muita gente se apropriou dele e ficou parecendo que faltou humildade. O mais importante, claro, é o acesso, mas o título de campeão sempre é importante. Eu vou comemorar o acesso, mas vou comemorar muito se formos campeões.
Quando você assumiu de vice de futebol, havia problemas de vestiário?
— Havia, sim, mas era natural. O Inter recém tinha sido rebaixado, autoestima em baixa...recentemente, por exemplo, nesta mesma sala em que estamos agora conversei com Ernando, que estava sem oportunidade no time titular. Falamos sobre como era injusto rotular Ernando como um dos culpados do rebaixamento, do quanto era importante que ele continuasse trabalhando com afinco porque uma nova chance poderia surgir a qualquer momento. Surgiu, e a resposta dele tem sido excelente. Este foi um dos casos. A volta do D'Alessandro, por exemplo, foi um grande acréscimo. Com ele no ano passado certamente teríamos mais chance de não sermos rebaixados. Em 2018, ele já jogou mais vezes até setembro do que em todo ano passado no River Plate. Poderia ter ficado por lá, quis voltar para nos ajudar no retorno à Série A. Vamos apresentar proposta para renovar contrato com ele para o ano que vem, tenha certeza.