O presidente Lula não gosta de demitir ministros no primeiro sinal de irregularidades. O petista diz a auxiliares mais ansiosos que o tempo da política não é o tempo das redes sociais.
Mas, além da gravidade da denúncia de assédio sexual envolvendo o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, agora Lula é pressionado dentro de casa a tomar uma medida rápida. A primeira-dama, Janja da Silva, é muito próxima à ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial, que teria sido uma das vítimas de assédio.
Além da relação de amizade com uma das denunciantes, a primeira-dama possui uma trajetória de defesa de políticas de enfrentamento a todo tipo de assédio. Por isso, para ela e para o próprio governo, a denúncia envolvendo dos titulares do primeiro escalão ganha contornos ainda maiores.
Na quinta-feira (5), logo após as informações virem à tona, o Planalto informou que a Comissão de Ética da Presidência da República abriria uma apuração sobre o caso. Horas depois, a Polícia Federal anunciou abertura de inquérito.
Mas há relatos de que a cúpula do governo já havia sido avisada. Se isso for comprovado, ampliará a crise no entorno do gabinete de Lula.
Além de negar as acusações, Almeida publicou uma nota no site oficial do ministério acusando a ONG Me Too, que recebeu as denúncias de assédio, de tentar interferir em uma licitação milionária do Disque 100. O ministro afirma ter barrado sucessivas investidas de integrantes da organização que poderiam acarretar em prejuízos para os cofres públicos.
Entre versões de um lado e de outro, ficará difícil para o presidente Lula sustentar a permanência de Almeida na Esplanada. O fato é que, independentemente do desfecho do caso, haverá sérios prejuízos ao governo.
Se confirmadas as denúncias, o ministro dos Direitos Humanos terá cometido um dos crimes mais combatidos pela sua pasta. Se ele vier a provar inocência, o peso recairá sobre a ministra da Igualdade Racial, fragilizando outra autoridade envolvida diretamente no combate a assédio. Sem falar na possibilidade de omissão da cúpula do governo.