O presidente Lula e o presidente da Câmara, Arthur Lira, decidiram deixar de lado os fortes desentendimentos que marcam a relação entre os dois em busca de um consenso para o comando do parlamento.
O acordo para que o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), cedesse seu lugar na disputa ao deputado Hugo Motta (PB) foi uma forma de encontrar um nome mais palatável a todos os grupos políticos. Mas o movimento já estava no radar dos demais candidatos, e eles não indicaram até agora disposição em ceder.
No caso de Elmar Nascimento (União-BA), que até então era o favorito de Lira, a dobradinha com Lula foi considerada uma traição. Apesar de o seu partido possuir três assentos na Esplanada, Elmar não tem boa relação com o governo. Até o momento, ele garante a aliados que manterá a candidatura.
Já Antonio Brito (PSD-BA), que figurava como favorito do Planalto, terá dificuldade para se viabilizar caso o apoio de Lula se solidifique em torno de Motta. Esta ligação mais estreita com o governo é justamente o que dificulta a obtenção de apoio de partidos que possuem mais parlamentares na oposição.
Apesar de ter apenas 34 anos, Motta já é considerado um político experiente. Membro de uma família tradicional de políticos da Paraíba, está no quarto mandato. Ele fez parte da base de todos os governos, de Dilma Rousseff a Jair Bolsonaro. Nas eleições de 2022, manteve a orientação de seu partido e apoiou Bolsonaro. Mas não demorou a se aproximar da base de Lula após o Republicanos ganhar espaço na Esplanada.
Esta facilidade em circular por diferentes grupos políticos é considerada na Câmara um grande atributo, que se soma à disposição em manter os interesses dos parlamentares acima da relação com o governo.
Com uma base frágil, Lula viu que poderá ter de abrir mão de seu candidato favorito. A proximidade da eleição interna também diminui a cada semana o poder que Lira exerce sobre os parlamentares. Por isso, apesar de não esconderem divergências ideológicas e políticas, os dois têm agora um interesse em comum: evitar um desafeto na cadeira de presidente da Câmara.