O presidente Lula retornou ao palco da Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira (24), em uma condição bem mais vulnerável do que no ano passado. As queimadas que consomem florestas pelo Brasil expuseram ao mundo os efeitos das mudanças climáticas, mas também a ineficiência dos órgãos públicos para evitar a ação de criminosos. Lula fez um discurso coerente. Cobrou envolvimento dos países ricos contra o aquecimento global, e também reconheceu que seu governo precisa evoluir no tema.
A comparação com o discurso feito no ano passado é inevitável porque, retornando ao poder após 12 anos, Lula prometia em 2023 um novo capítulo na preservação do meio ambiente. A comunidade internacional assistia abismada às falas de Jair Bolsonaro desprezando as mudanças climáticas, reduzindo a fiscalização de ilícitos nas florestas e defendendo garimpeiros. O petista, então, fez o discurso oposto, mas as queimadas deste ano mostraram que a prática ainda precisa evoluir muito para alcançar o que é prometido em palavras.
Lula disse nesta terça-feira que os incêndios já devoraram 5 milhões de hectares apenas no mês de agosto. Argumentou que seu governo “não terceiriza responsabilidades nem abdica da sua soberania” sobre as florestas. Mas não deixou de fazer uma dura cobrança aos países ricos que exigem preservação do meio ambiente, mas pouco colaboram para compensar as altas taxas de emissão de gases.
— O planeta já não espera para cobrar da próxima geração e está farto de acordos climáticos que não são cumpridos, está cansado de meta de redução de emissão de carbono, negligenciada do auxílio financeiro aos países pobres que nunca chega – sublinhou.
Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a seca deste ano é a mais extensa já registrada no Brasil. Além da falta de chuva, Lula citou a enchente no Rio Grande do Sul como evidência incontestável da crise climática.
Se na edição deste ano da Assembleia Geral os incêndios impuseram uma mancha incontestável na imagem do Brasil, ao menos no discurso Lula reconheceu sua responsabilidade, e acertou ao dizer perante os líderes do mundo que as nações mais prósperas precisam provar que a preocupação ambiental não ficará apenas no discurso.