Convidado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir ajustes nas medidas de apoio ao Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite afastou, nesta quarta-feira (21), qualquer mal-estar entre os dois e agradeceu ao que já foi feito pelo governo federal. Pontuou, no entanto, que ainda vê um "descompasso" entre o que foi anunciado pela União e o que foi efetivamente entregue até agora.
Leite levou uma lista de reivindicações ao presidente, que inclui mudanças nas regras de acesso a crédito e manutenção de empregos, além da ampliação de ações voltadas a agricultores. Eles também discutiram a necessidade de aprimoramento no projeto que criou um novo programa de renegociação de dívidas dos Estados com a União.
Na última sexta-feira (16), em visita ao RS, Lula disse à Rádio Gaúcha que o governador "nunca parece satisfeito", e que "um dia ele deveria me agradecer" pela ajuda após a enchente. A conversa no gabinete presidencial foi marcada no mesmo dia, em uma tentativa de reduzir as divergências.
— Se nós formos capazes de pensar no Brasil e na população, a gente supera as diferenças e entrega o que tem que ser entregue. O presidente falou "o governador tem que agradecer". Eu agradeço. Mas não deixo de demandar, reclamar e criticar, se for o caso. Entendo que é meu papel como governador fazer isso diante de um Estado que enfrentou uma grave calamidade. Eu tenho mostrado que há um descompasso entre o apoio que foi anunciado e o que se está efetivando lá na ponta. Eu não faço a crítica para que o governo seja fustigado, mas para que ajustem e melhorem as medidas — disse Leite à imprensa após o encontro.
O governador também se antecipou em esclarecer que, no momento em que pede a adoção de programas que foram adotados durante a pandemia, não está elogiando o governo Jair Bolsonaro, e sim discutindo pontualmente ações que foram efetivas.
— A gente usa a comparação com a pandemia e nesta política polarizada parece que estamos elogiando o governo anterior, mas várias medidas foram tomadas por pressão do Congresso — complementou.
A conversa foi acompanhada pelos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Paulo Pimenta (Secretaria Extraordinária da Reconstrução), além de secretários do governo estadual. Sem entrar em detalhes sobre as demandas levadas pelo governador, Pimenta disse à coluna que a conversa foi produtiva e ajudou a mostrar o que já foi feito, além do papel de cada um na ajuda à população.
— Foi uma boa reunião de trabalho, importante para que o governador conheça de forma mais detalhada as ações do governo federal e as medidas que tomamos para que elas tenham o alcance esperado. Muitas vezes, a partir da decisão do governo de efetivar uma política é necessário que o governo do Estado e as prefeituras façam a sua parte. E isso é constantemente ajustado entre nós. Foi uma reunião muito tranquila, que mostra o compromisso do governo de dar todo o apoio necessário para a reconstrução do Rio Grande do Sul— afirmou Pimenta.
Reivindicações
Um dos programas do governo federal que precisa de ajustes, na opinião de Leite, é o que auxilia as empresas atingidas pela enchente a pagarem dois salários mínimos aos trabalhadores. Além do valor e do prazo do auxílio, o governador entende que o benefício deveria ser estendido a empresas que estão fora da mancha de inundação.
— O governo anunciou R$ 1,2 bilhão para o programa, mas acabaram sendo acessados apenas R$ 170 milhões. Não é que as empresas não precisem, é que as regras ficaram muito engessadas e acabam limitando o acesso — disse.
O governador também pediu a criação de um fundo garantidor de operações de crédito para empresas endividadas. Disse que há muitos casos de empreendimentos atingidos pela enchente de maio e por outros eventos climáticos que não conseguem oferecer garantias aos bancos. Neste caso, afirma, a União poderia fazer este papel junto às instituições financeiras.
A reunião ainda discutiu as demandas de agricultores, que incluem o alongamento de dívidas e facilidades para novos empréstimos.