O presidente Lula não intensificou os ataques ao presidente do Banco Central (BC) nos últimos dias porque dormiu com os pés descobertos. A intenção eleitoreira é clara: indicar um inimigo do povo pela alta dos juros. A estratégia, no entanto, é arriscada. E se a desconfiança do mercado seguir em alta, poderá gerar aumento de preços e entregar o efeito contrário. O presidente tem em casa um bom conselheiro, o perigo está nas opiniões que passou a buscar do lado de fora.
Até agora, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi incansável em tentar conciliar a extensa lista de pedidos do Planalto e as limitações do orçamento. Nos últimos dias, mostrou a Lula que mudanças estruturais bem azeitadas com o Congresso fazem bem mais sentido do que declarações em busca de inimigos. Lula não se convenceu, e nos últimos dias pediu para ouvir outras opiniões.
Como publicado pela Folha de S. Paulo, o petista também quis avaliar o cenário nos últimos dias com o ex-ministro Guido Mantega, o ex-secretário do Ministério da Fazenda Luiz Gonzaga Belluzzo e o fundador do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), Eduardo Moreira. A linha intervencionista defendida pelo trio já é conhecida. É preocupante saber que medidas adotadas no governo Dilma Rousseff e a crise econômica de 2015 possam ser esquecidas na hora de tomar decisões.
É verdade que a alta do dólar não está relacionada somente às recentes entrevistas de Lula. No mundo todo há desvalorização frente à moeda norte-americana. Mas a disposição do presidente em defender gastança e criar divisão entre ricos e pobres, entre o mercado financeiro e o povo, não ajudará a abrandar a desconfiança que recai sobre o Brasil.
Além da trégua nas declarações, Haddad apresentou um plano que envolve revisão de gastos e de benefícios tributários, garantindo autonomia do Banco Central e compromisso com o arcabouço fiscal. Pode ser o caminho mais difícil, mas certamente o que dará maior estabilidade e mais chances de se aproximar de seu segundo mandato, e não do histórico de sua sucessora.