Ao recomendar um “chá de camomila” a quem disse estar assustado com suas declarações durante a campanha eleitoral na Venezuela, Nicolás Maduro mandou mais do que uma indireta desaforada ao presidente Lula. O líder chavista deixou claro que irá ignorar qualquer apelo por civilidade e transparência nas eleições. A postura reforça a necessidade de o governo brasileiro ser enfático na exigência de liberdade nas eleições previstas para domingo.
Enfraquecido politicamente e em desvantagem nas pesquisas eleitorais, Maduro adotou um roteiro conhecido entre autoritários: elegeu inimigos externos e se colocou como o único remédio contra o “mal”. No discurso mais recente, também mentiu ao dizer que não há lisura nas eleições do Brasil e dos Estados Unidos, duas das principais democracias do mundo. As declarações se somam ao disparate de tentar invadir e anexar uma área rica em petróleo da Guiana.
É verdade que Lula já criticou o endurecimento de medidas autoritárias, mas o seu histórico de alinhamento com o chavismo deixa um ponto de interrogação. Além do mais, o petista defendeu recentemente que o conceito de democracia é relativo, citando o número de processos eleitorais na Venezuela.
Maduro, que tem sob seu domínio o Judiciário, as Forças Armadas e outras instituições públicas, não dá demonstração alguma de que irá promover um processo eleitoral justo e transparente. Ou seja, mesmo que adversários estejam habilitados a concorrer no domingo, há desconfianças no mundo todo sobre a legitimidade do pleito.
Diferentemente de conflitos no Oriente Médio e outras regiões distantes, na América do Sul a postura do governo brasileiro tem muito mais do que o peso simbólico de uma declaração. É por isso que Lula precisa deixar a simpatia política de lado e enfatizar seu repúdio a qualquer iniciativa que impeça o reconhecimento da vontade do povo venezuelano nas urnas.