A decisão do governo Lula de antecipar o aumento do teor de biodiesel na mistura ao óleo diesel terá reflexos em uma ampla cadeia produtiva no Rio Grande do Sul, líder nacional do setor, e em outros Estados das regiões Sul, Centro-Oeste e Norte. Além da geração de negócios e de valor agregado para as cadeias da soja e de proteína animal, a medida deverá elevar os investimentos junto aos agricultores familiares. A mistura de biodiesel sairá dos atuais 12% para 14% a partir de março de 2024, e para 15% em março de 2025.
Das 61 usinas de biodiesel em atividade no país, nove estão no Estado. A estimativa é de que o Brasil fechará 2023 com produção de 7,3 bilhões de litros do combustível. No ano que vem, o montante deverá saltar para 8,9 bilhões de litros. Em 2025, a projeção é de 10,1 bilhões de litros.
A decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) nesta semana também incluiu a proibição de importação de biodiesel, outra medida celebrada pelo setor. As usinas brasileiras possuem ociosidade em sua capacidade instalada perto de 50%.
A coluna repercutiu o tema junto ao presidente do conselho de administração da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), Francisco Turra. Confira, abaixo, os principais temas da entrevista.
Como o setor recebeu a notícia da antecipação do aumento da mistura do biodiesel ao diesel?
É uma grande notícia não apenas para o setor do biodiesel, mas para o produtor de soja, agricultura familiar, de proteína animal. Afinal, o farelo de soja é um dos principais insumos na alimentação animal.
Quais serão os reflexos imediatos?
Nós somos importadores de diesel fóssil. De 65 bilhões de litros que consumimos ao ano, importamos 12 bilhões. E sabemos que é o principal agente de poluição. Estamos produzindo biodiesel para descarbonizar. Esta medida nos eleva em um patamar muito significativo. De 7 bilhões de litros que geramos ao ano, podemos passar para 8,8 bilhões. Vamos esmagar, em vez de 28 milhões de toneladas, 36 milhões de toneladas de soja. Isso traz uma agregação de valor muito importante. Uma coisa é exportar uma tonelada de soja, outra é exportar proteína animal. E deixamos de importar diesel, então o emprego é nosso, a produção é nossa.
No mercado, há críticos sobre a qualidade do biodiesel.
Nós temos frotas 100% biodiesel no motor, exemplos de cidades que usam há muito tempo no tranporte público, como Curitiba. É um produto fiscalizado, acompanhado e cabe a cada setor organizar-se para dizer: se alguém está falhando, indique para que não aceitamos isso. Nós somos os primeiros a denunciar, a repelir qualquer tentativa de fraude, a contestar e pedir punição. Não temos medo que fiscalizem e queremos mais fiscalização para dizer que nos interessa andar de forma segura.
Ao esmagar a soja, a indústria também gera insumos para os produtores de animais. Como o aumento de produção vai impactar na oferta de ração?
Sim, vai aliviar muito neste campo. É uma equação inteligente e racional. Nós, que somos grandes exportadores de proteína, teremos ração disponível e poderemos ser ainda mais referência na exportação de ração.
Como o aumento de produção de biodiesel impacta os pequenos e médios produtores de grãos?
Há 80 mil famílias de pequenos agricultores, da agricultura familiar, que entregam soja. Além do aspecto de saúde e meio ambiente, é uma questão social que é fundamental. E com isso também vamos cumprir este grande compromisso da COP28 de ir despoluindo, descarbonizando, evitando o efeito estufa em um momento em que não precisamos falar, que nós estamos sentindo e vendo os efeitos nocivos das mudanças climáticas. Então, a transição tem que ser urgente e o passo dado foi neste rumo.