O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, tem razão ao dizer que não podemos "naturalizar absurdos" no país. Agredir ou até mesmo xingar um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) é inaceitável— ainda mais em local público. Mas enviar a Polícia Federal (PF) à casa dos detratores é, sim, uma atitude desproporcional e levanta suspeita de abuso de poder.
O ministro Alexandre de Moraes relatou ter sido xingado por brasileiros no Aeroporto Internacional de Roma, na Itália. Na ocasião, seu filho também teria sido agredido com um tapa. Além dos depoimentos dos envolvidos, imagens de câmeras de segurança já foram solicitadas e logo serão acessadas pela PF. Com isso, ainda seria necessário enviar agentes à casa dos suspeitos?
Dino afirmou em redes sociais que a ação não configura "fishing expedition", termo que designa operações policiais especulativas, ou seja, sem objetivo claro. Mas é difícil imaginar atitude semelhante com vítimas comuns. Até mesmo o empenho da PF, que mobilizou a cúpula da corporação na resposta ao caso, parece exagerado e lança dúvidas sobre o limite entre investigação e perseguição.
Eleito o principal inimigo de seguidores de Jair Bolsonaro, Moraes é, de longe, a autoridade mais exposta do Judiciário. Ao enfrentar um período duro de ameaças às instituições e profusão de fake news, teve o mérito de ser um dos garantidores de eleições livres em 2022 e do respeito ao resultado das urnas. A trajetória teve acertos, mas também reservou medidas autoritárias que agora apontam para um futuro duvidoso.
Os métodos da Lava-Jato, que também incluíram uma profusão de operações da PF, foram duramente criticados por Moraes e seus pares. Serão eles, agora, os responsáveis por repeti-los?