Não é só como referência de tragédia ambiental que o Rio Grande do Sul pode marcar a transição energética. No extremo sul do Estado, está nascendo uma resposta para a contribuição do Brasil para a redução nas emissões de gases de efeito estufa (GEE). A Refinaria de Petróleo Riograndense (RPR) se prepara se tornar uma biorrefinaria com 100% de matérias-primas renováveis, que tem no seu planejamento inclusive o combustível sustentável de aviação citado no documento brasileiro da NDC (Nationally Determined Contribution, ou Contribuição Nacionalmente Determinada) apresentado nesta quarta-feira (13) em Baku. O diretor-superintendente da RPR, Felipe Jorge, detalha o projeto.
É mera coincidência que o projeto tenha avançado durante a COP29?
Sim, assinamos o contrato de tecnologia para a produção de diesel verde e SAF (sigla em inglês para combustível sustentável de aviação) com a dinamarquesa Topsoe há 10 dias, tudo ficou pronto para o anúncio neste momento. O projeto caminhou e ficamos prontos. Não foi intencional. Nos últimos anos, a Riograndense fez um redirecionamento estratégico, de olhar para esse mundo de transição energética e descarbonização. Estamos nos preparando para ser a primeira biorrefinaria completa, com operação 100% renovável do Brasil.
Em que fase está o processo?
Essa jornada de transição envolve duas fases. Começamos a primeira no ano passado, fazendo um teste para validar a tecnologia da Petrobras/Cenpes que vai nos permitir fazer bioGLP (gás de cozinha renovável) e químicos verdes. Essa etapa não tem grandes investimentos, estamos adaptando as unidades existentes. Essa já está em marcha, materializando o ciclo da transição da Riograndense.
E a próxima?
Em paralelo, estudamos um projeto para produção de SAF e diesel verde em Rio Grande. Acabamos de definir que a tecnologia será a da Topsoe, uma referência mundial de plantas para produzir óleos vegetais, uma vanguarda em tecnologia avançada. A decisão final sobre essa etapa será tomada entre julho e agosto de 2025. Hoje, nossa estimativa de investimento é de US$ 900 milhões (R$ 5,2 bilhões no câmbio atual), mas precisamos avançar em definições para ter um valor mais exato.
Bem a tempo para a COP30 no Brasil?
Sim, é outra coincidência boa, temos uma brincadeira interna que temos um desafio para o ano da COP no Brasil, tomara que dê certo.
Como se financia um projeto desse porte, com vendas antecipadas?
Existem diferentes modalidades e com necessidade de recursos tão grande o mais provável é que se use pouco de cada coisa. Temos uma vantagem competitiva que é usar parte dos equipamentos, especialmente tanques de armazenamento e dutos. Projetos de conversão como o nosso buscam minimizar o capex (reduzir o investimento inicial). Olhando casos de sucesso, temos um projeto consistente.
Como será a transição física, em algum momento as máquinas que refinam petróleo são desligadas para a instalação das novas?
Vamos instalar os equipamentos novos em área diferente, para manter os atuais operando. Vai chegar um momento em que precisa fazer virada de chave. A previsão é que seja no primeiro trimestre de 2028.
Qual a capacidade atual da refinaria?
É de 17 mil barris/dia. Uma refinaria pequena, hoje, tem certa de 200 mil. Então, para ser competitiva, precisaria aumentar de tamanho 10 vezes. Mas a escala das biorrefinarias é de cerca de 20 mil barris/dia. Com o reposicionamento, deixamos de ser uma refinaria de pequeno porte para ter escala mundial. Por isso o redirecionamento foi estratégico.
*Colaborou João Pedro Cecchini