A reação de perplexidade em boa parte do mercado brasileiro à melhora da nota de crédito do Brasil fez a Moody's detalhar os motivos nesta quinta-feira (3).
A críticas bem ou mal humoradas, a agência de classificação de risco justificou, basicamente, que a situação fiscal do país é essencial - e "permanece um desafio" - mas outros fatores são considerados para avaliar a qualidade do crédito do país.
Além do crescimento e das reformas promovidas nos últimos anos, a dívida brasileira é muito mais sólida em termos de vulnerabilidades externas, afirmou Samar Maziad, vice-presidente e analista sênior de riscos soberanos na Moody’s:
— A dívida do Brasil é 95% detida localmente e não antecipamos riscos ao seu financiamento.
No comunicado em que fez o "upgrade" (melhora da nota), a Moody's destacou as grandes reservas cambiais do Brasil, um diferencial em relação a outros países emergentes. Esse é o motivo pelo qual a agência classifica o teto da avaliação da moeda brasileira, o real, já em grau de investimento, e de alta qualidade, em A3, muito acima da nota da dívida pública.
A íntegra da nota do upgrade
A Moody's Ratings (Moody's) elevou hoje (terça, 1º) os ratings de emissor de longo prazo e títulos sêniores sem garantia do governo do Brasil para Ba1 de Ba2, o rating de prateleira sênior sem garantia para (P)Ba1 de (P)Ba2; e manteve a perspectiva positiva. A atualização reflete melhorias materiais no crédito que esperamos que continuem, incluindo um desempenho de crescimento mais robusto do que o avaliado anteriormente e um histórico crescente de reformas econômicas e fiscais que conferem resiliência ao perfil de crédito, embora a credibilidade da estrutura fiscal do Brasil ainda seja moderada, tal como refletido em custo relativamente elevado da dívida. Por sua vez, um crescimento mais robusto e uma política orçamentária que siga consistentemente o quadro orçamentário permitirão que o peso da dívida se estabilize no médio prazo, embora em níveis relativamente elevados. A perspectiva positiva reflete a possibilidade de que o crescimento constante e o cumprimento do arcabouço fiscal ajudem a aumentar a credibilidade institucional e a reduzir os custos dos empréstimos de forma mais acentuada do que atualmente assumimos. Por sua vez, um custo mais baixo da dívida teria impacto positivo na trajetória da dívida pública do Brasil, especialmente se combinado com crescimento mais robusto do que esperamos atualmente, permitindo redução no peso da dívida no médio prazo. Os tetos-país do Brasil foram alterados. O teto do país em moeda local está posicionado quatro níveis acima da classificação soberana em A3 de Baa1, refletindo a estabilidade externa e o risco político moderado, em comparação com a presença relativamente grande do governo na economia. O limite máximo do país em moeda estrangeira é elevado para Baa1 de Baa2, um degrau abaixo do limite máximo do país em moeda local reflete grandes reservas cambiais, o que reduz o risco de restrições à transferência e conversibilidade em tempos de tensão, e conta de capital aberta, equilibrada contra a volatilidade da taxa de câmbio e algumas restrições aos fluxos de capitais de curto prazo.
Qual é o papel das agências de rating?
Como a coluna já comparou, o papel das agências de rating é semelhante ao da Serasa no Brasil. Todo brasileiro sabe que, se estiver "na Serasa", não tem acesso a crédito regular e, se precisar desesperadamente de um empréstimo, terá de recorrer a fontes menos respeitáveis, digamos assim.
O que avaliam?
Fitch, Moody's e S&P respondem por cerca de 80% do mercado global de avaliações de risco. Avaliam, basicamente, o risco de calote: se a possibilidade de inadimplência for grande, o crédito vai custar mais caro. Se é baixo, tomar ou rolar os empréstimos custará menos.
O que as notas significam?
A classificação das agências parece boletim de escola, mas como tem mais escalas parece uma sopa de letrinhas e sinais. Vai do exclusivo AAA e vai até o D de "default", calote no idioma do mercado financeiro. Para facilitar o entendimento, as mais de duas dezenas de combinações são divididas em três grupos:
- O primeiro é chamado "grau de investimento", que o Brasil ambiciona recuperar, apelidado de "clube de bons pagadores" para facilitar a compreensão, que tem dois subgrupos, um de "alta qualidade", outro de "média".
- O segundo tem o nome educado de "grau especulativo", mas ganha apelidos depreciativos: "junk bonds", ou "títulos podres". É onde o Brasil está agora.
- O terceiro é tão ruim que nem apelido formal existe, mas a coluna já classificou de "inferno", onde nenhum país quer entrar e todos querem sair. A Argentina está aqui.