Ainda em 2015, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vetou financiamentos a projetos de queima de carvão em nome da redução da emissão de gases de efeito estufa.
Agora que os impactos da mudança do clima se aceleraram, o banco federal que oferece empréstimo de longo prazo a baixo custo está ampliando a lista dos "proibidões". O anúncio ocorre na Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade, conhecida como COP 16, realizada em Cali, na Colômbia, desde o dia 21.
Além de reiterar o veto à queima de carvão, o BNDES não financiará empreendimentos com alto risco socioambiental, que usem madeira como principal matéria-prima que não venha de áreas plantadas, mineração em unidades de conservação, termelétricas a óleo fóssil e frigoríficos que não tenham rastreabilidade de toda a cadeia.
As novas diretrizes do BNDES foram antecipadas pela colunista de O Globo Míriam Leitão e são acompanhadas de um texto assinado pelo climatologista Carlos Nobre, também integrante do Comitê Científico de Adaptação e Resiliência Climática do RS. O banco federal é gestor do Fundo Amazônia e do Fundo Clima.
Poucas dessas interdições pegam potenciais candidatos desprevenidos - ao menos, os mais conectados. Não só esses tipo de restrição já é uma estratégia de grandes bancos privados, como também uma condição imposta pelo mercado para comprar produtos.
No 25º Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), realizado neste mês, o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy observou que medidas restritivas a atividades com impacto ambiental negativo já são regra até em países como a China. O "até" se deve ao fato que o gigante asiático costumava ter mais foco na ampliação da produção do que na preservação de recursos naturais.
No mesmo evento, Luiz Roberto Barcelos, sócio-fundador e integrante do conselho na Agrícola Famosa, que pratica agricultura regenerativa, diz que, quando recebe questionamentos sobre se a remuneração pelo "diferencial" é suficiente para bancar o investimento, responde:
— A questão não é quanto mais vão pagar. É se o negócio vai estar vivo ou não, porque se não estivermos alinhados à preservação ambiental, simplesmente não vão mais comprar. Quem não adotar as melhores práticas não vai vender por preço nenhum.
Com todos esses sinais, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) informou nesta sexta-feira (25) que a degradação da Amazônia chegou a 20.238 km² em setembro - o equivalente a cerca de 13 vezes a da cidade de São Paulo. Foi a maior área atingida nos últimos 15 anos. O Imazon monitora o desmatamento por imagens de satélite desde 2009. Em relação a setembro do ano passado, a área degradada no mês passado foi 15 vezes maior.