Denise Hills é conselheira, pioneira dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) pela Organização das Nações Unidas (ONU) em finanças sustentáveis e integrante do comitê consultivo do Chapter Zero Brazil (IBGC). Nesta entrevista à coluna, realizada no 25° Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), em São Paulo, Hills relata o que é preciso fazer e como evitar que a meta de aquecimento de 1,5ºC, estabelecida no Acordo do Paris, vá por água abaixo.
Como o provável fracasso em segurar o aquecimento global em até 1,5°C, previsto como meta no Acordo de Paris, impacta no combate à mudança climática?
Existia uma expectativa, independente das pessoas entenderem a meta de 1,5ºC, de que precisava fazer algo, porque senão tiraríamos das próximas gerações. Por mais que isso parecesse mobilizador, tinha gente que não estava olhando. E o fato de acontecer na nossa geração pegou muita gente de surpresa. Depois de sentir os efeitos, fica mais fácil de achar que não vai ter outro jeito a não ser fazer. Ainda se fala “foi só neste ano”. Mas o que já vemos e a ciência mostra é que esse é o novo futuro. E já existem alternativas do que fazer. Estou ansiosa por ver que ainda estamos demorando. Mas temos tecnologia e capacidade de reverter, especialmente sendo brasileiros. Ao contrário de outros países em que é uma agenda de correr atrás, no Brasil é de receber recursos. Pode ser uma motivação para mobilizarmos os tomadores de decisão.
E dá tempo?
Tomara. Na verdade, dá. Digo tomara, porque precisa de esforço coordenado. É papel da COP (Conferência das Partes), da ONU (Organização das Nações Unidas) e da OMC (Organização Mundial do Comércio), que precisam se alinhar. Se fizermos tudo e o mundo não fizer nada, morremos todos. A consciência de oportunidade talvez faça o Brasil não só receber, mas também fazer.
Dá para pagar a conta?
Sim, porque, em condição de Brasil, dá para flertar com grandes fundos de financiamento. Para isso, precisamos ter empresas capazes de fazer e Estado com política e programa de implementação. Os governos sozinhos não têm condição. Não adianta esperar que o governo vá fazer. Se não tiver condição, não vai. Por isso, as empresas, o governo, a sociedade civil e esses grandes fundos de financiamento são a grande discussão da COP-29, (no Azerbaijão), antes de Belém, quando fecha a meta de quem paga e recebe, para permitir que as medidas não fluam só localmente, dado que uma solução local, como a Amazônia de pé, resolve o problema de chuva e de temperatura em praticamente todo o mundo.
*A jornalista Marta Sfredo viajou a convite do IBGC