A medalha de bronze por equipe na ginástica artística feminina é mesmo um feito histórico para o Brasil. A modalidade foi do nada ao pódio em 20 anos.
Atenas, em 2004, foi a primeira Olimpíada para a qual o Brasil enviou uma equipe completa. E a trajetória de Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Lorrane Oliveira, Flavia Saraiva e Júlia Soares é um testemunho dos resultados que boas políticas sociais podem dar para a sociedade.
O caso mais emblemático é o de Rebeca, que começou saltar aos cinco anos, quando entrou para o projeto social Iniciação Esportiva, da prefeitura de Guarulhos.
No dia da inscrição, conta sua já alentada biografia, foi apelidada de Daianinha, por lembrar a gaúcha Daiane dos Santos, primeira ginasta brasileira a ganhar medalha de ouro em campeonato mundial.
Aos nove, Rebeca foi treinar no Centro de Excelência de Ginástica do Paraná, mantido pela prefeitura de Curitiba, onde foi criada a primeira seleção brasileira permanente - outro projeto social.
— A ginástica foi a maior oportunidade da minha vida, aquele projeto social foi a maior oportunidade da minha vida, mas quando eu era pequena não entendia isso. Para mim, no começo, estava em um parque de diversão fazendo algo de que gostava muito — disse Rebeca antes de receber a maior nota individual da competição por equipes, de 15,1 mil no salto - sim, maior do que qualquer nota da americana Simone Biles.
Foi essa nota, aliás, que guindou o Brasil do sexto para o terceiro lugar na disputa por equipes. Sem o esforço e o empenho das colegas, claro, não haveria bronze. Flavia, que se machucou no aquecimento e disputou com o olho inchado, é outra ginasta que fez suas primeiras piruetas em um projeto social, no subúrbio do Rio de Janeiro.
Há iniciativas de prefeituras, governos estaduais e de empresas que contribuem com esse esforço para transformar vidas e trajetórias. Muitos até ganham prêmios internacionais, mas não é todo dia que sobem no pódio, com direito a hino, suor e lágrimas.
Se ninguém fizer nada, a profunda desigualdade da sociedade brasileira se cristaliza. Como destacam os vanguardistas, "o problema é nosso, não é só do governo". Momentos como esse histórico 30 de julho de 2024 só reforçam que, se todos fizermos a nossa parte, podemos colher juntos os resultados.