O triste fim do leilão de arroz previsto pelo governo Lula precisa deixar lições. Repetir que as regras não preveem identificação das concorrentes até que a disputa seja realizada não só não justifica o fiasco como o agrava.
Trata-se de uma regulação da década de 1980 que, aparentemente, ninguém pensou em atualizar antes de reativar. Entre a década de 1980 e o presente, houve a operação Lava-Jato e as suas revelações sobre a dinâmica de contratos públicos (além de revelações sobre o comportamento dos investigares, é bom lembrar).
É lamentável que o final dessa sucessão de equívocos mine uma boa intenção, a retomada da política de estoques reguladores que fez falta na pandemia. A anulação seguida de demissão do secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, ex-deputado e ex-ministro Neri Geller, foi a cereja estragada sobre um bolo que havia desandado.
Não houve como esconder: a principal corretora do leilão anulado é de Robson Almeida de França, ex-assessor parlamentar de Geller na Câmara e é sócio de Marcello Geller, filho do secretário, em outras empresas.
Será necessário investigar, mas o encadeamento dos fatos sugere há outras lições a aprender, além de saber com antecedência a identidade de quem disputa uma licitação pública.