Quem se espantou com a cifra de R$ 19 bilhões dos "cálculos iniciais" do Palácio Piratini sobre a necessidade de recursos para reconstruir o Rio Grande do Sul depois do desastre climático ainda pode ser surpreendido por recalibragem para cima. Mesmo quem conhece a fundo a infraestrutura do Estado argumenta que ainda é difícil chegar a um valor preciso, inclusive porque o refluxo da água ainda não expôs todas as nossas cicatrizes.
Estimativas não oficiais a que a coluna teve acesso frequentam a casa de dezenas - no plural - de bilhões de reais. O governo federal está acenando com R$ 50,9 bilhões para assalariados, reforço de programas sociais, empresas e produtores rurais.
Um dos motivos é porque não será preciso "apenas" reconstruir, o que já seria missão bilionária e desafiadora. Será preciso recompor infraestrutura, cidades inteiras e muitas moradias com maior robustez, com critérios adequados para resistir à mudança climática.
Por mais que sejam necessárias obras emergenciais para recompor a conexão entre cidades, são intervenções que não podem ser mantidas por muito tempo. Realizadas às pressas, permitem tráfego emergencial, mas não vão sustentar nem a volta à normalidade nem, muito menos, oferecer resistência à próxima inundação. Porque, sim, a essa altura todos sabemos que haverá uma próxima. E outra. E outra.
A coluna vem acompanhado o debate no entorno no governo e entre especialistas em infraestrutura sobre a necessidade de não "apenas" reconstruir da mesma forma. Essa inquietação gerou a recomendação de busca de um especialista em catástrofes para reconstruir o Estado.
É óbvio que, mesmo que seja encontrado profissional, empresa ou governo - como o do Japão, como sugerido por profissionais de universidades locais - capaz de auxiliar o Estado, isso não dispensará a consulta a especialistas locais. Hidrólogos, geólogos, geógrafos, urbanistas, todos serão essenciais para definir o alcance das necessidades e os critérios para a reconstrução e a readaptação do Rio Grande do Sul à maior frequência e intensidade de tempestades severas.
Na reunião com empresários da terça-feira à noite, o governador Eduardo Leite confirmou a intenção de criar um órgão específico, a Autoridade Estadual para Emergência Climática, dedicada ao enfrentamento do desastre e da reconstrução. E previa três fases de trabalho: assistência, o socorro aos atingidos; restabelecimento, que vai da desobstrução de vias a desmontagem de estruturas comprometidas; e reconstrução.
Essa última etapa, que vai consumir a maior parte das dezenas de bilhões necessárias, previa os seguintes desdobramentos, que incluem o apoio à cadeia produtiva do Estado, também duramente atingida:
- Reconstrução e recuperação de rodovias, estradas e pontes
- Reconstrução total ou parcial de edificações e equipamentos públicos afetados (escolas, saúde, assistência social, casas prisionais, etc.)
- Reforma e construção de unidades habitacionais
- Reurbanização dos locais atingidos e novos loteamentos (iluminação, saneamento, pavimentação)
- Apoio aos negócios e à produção local (linhas de crédito, crédito subsidiado, prorrogação de licenças, prorrogação do pagamento de tributos, medidas de emprego e renda)
- Apoio à reconstrução e restabelecimento das unidades de produção agropecuária (recuperação do solo, crédito subsidiado para insumos, sementes, etc.)
- Medidas ambientais para recuperação de ecossistemas degradados
PARA LEMBRAR: na urgência dos próximos dias e para a reconstrução nos seguintes, será necessária toda a ajuda disponível e mobilizável, por menor que seja. Se for grande, melhor ainda. Se puder, por favor, contribua. Saiba como clicando aqui.