Marta Sfredo

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A coluna online é um pouco diferente da GPS da Economia, de Zero Hora, que também assino. Aqui, cabe tudo. No jornal impresso, o foco é em análise dos temas que determinam a economia (juro, inflação, câmbio, PIB), universo empresarial e investimentos.

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Análise

Por que Haddad fala em “nova reforma da Previdência em três ou cinco anos”

Ministro da Fazenda menciona hipótese no debate sobre desoneração da folha, que acentua perda de receita para bancar benefícios projetada para o futuro próximo

Marta Sfredo

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A coluna já havia relacionado a resistência do governo Lula em desonerar a folha de pagamento de 17 setores e de pequenos municípios com a preocupação com o déficit da Previdência. Depois disso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi explícito:

 — Daqui a três ou cinco anos vai ter de fazer outra reforma da Previdência se não tiver receita.

É o velho conhecido roteiro de ameaçar com o caos quando um interesse é contrariado? Talvez haja exagero no prazo estimado por Haddad - três a cinco anos -, mas o cenário de exigência de uma nova reforma da Previdência é chancelado por especialistas da área e por projeções do Ministério do Planejamento.

É importante observar que, nas estimativas do Ministério do Planejamento sobre os riscos ao financiamento da Previdência para os próximos anos, não está computada a desoneração da folha de pagamento. Para ficar em um horizonte visível sem telescópio, nas contas oficiais o rombo superaria o valor de toda a arrecadação da Previdência em proporção do PIB até 2063.

Segundo estimativas da Fazenda, a perda de arrecadação com o benefício sobre a folha de salários nos moldes atuais seria de R$ 12 bilhões. Não fica muito acima do dado da Receita Federal sobre o impacto fiscal de R$ 9,36 milhões da desoneração em 2022. Ou seja, não é esse valor específico que exigirá uma nova reforma da Previdência. É mais um penduricalho que pesa nas contas.

Até porque é muito menor, diga-se de passagem, do que outra ameaça que está no Congresso, a PEC do Quinquênio, mãe de todas as pautas-bomba, que concede reajuste de 5% a cada cinco anos de trabalho para várias categorias do Judiciário, as mais bem remuneradas do serviço público. E também teria impacto na Previdência, porque embora seja sobre uma quantidade muito menor de salários, incidiria sobre valor expressivo. 

O cenário que leva à projeção de rombo de R$ 25,5 trilhões na Previdência em 2100 é composto principalmente por dois fenômenos que só vão se intensificar nesses longos 76 anos até lá: a informalização do mercado de trabalho, com crescimento maior de empregos sem carteira assinada, portanto sem contribuição previdenciária, e o crescimento da fatia da população acima de 65 anos, que saltou 212% de 1991 a 2022. 

O valor do rombo é até difícil de processar - mais de duas vezes o valor de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no ano passado - e muitos de nós que falamos sobre isso agora não estaremos aqui para checar se vai se concretizar ou não. Mas é preciso discutir agora as escolhas de políticas públicas para não pendurar essa conta nos bolsos das novas gerações.

O que é a desoneração da folha de pagamento

Permite que empresas de 17 setores troquem o pagamento da  contribuição previdenciária, de 20% sobre os salários dos empregados, por uma alíquota menor sobre a receita bruta, que varia de 1% a 4,5%. Os setores são confecção e vestuário; calçados; construção civil; call center; comunicação; empresas de construção e obras de infraestrutura; couro; fabricação de veículos e carroçarias; máquinas e equipamentos; proteína animal; têxtil; tecnologia da informação (TI); tecnologia de comunicação (TIC); projeto de circuitos integrados; transporte metroferroviário de passageiros; transporte rodoviário coletivo; e transporte rodoviário de cargas.

Leia mais na coluna de Marta Sfredo

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