Outra vez, o "novo anormal" do clima provoca estragos. Os meteorologistas dizem que o fenômeno El Niño está praticamente se despedindo, mas sua atuação se alia à mudança climática com efeitos mais permanentes, boa parte dos quais é considerada irreversível.
Não faltam roteiros para acelerar planos estruturados para reagir a essa nova realidade. O que falta é transformá-los em prioridade, sob pena de gastar muito mais na reconstrução do que na prevenção.
Além dos dramas humanos - aos quais todos nós estamos mais expostos - o que chama atenção no atual episódio de enxurrada é a situação das estradas. A imagem acima, da BR-290 cortada pela água em Charqueadas, ilustra o grau de vulnerabilidade das rodovias do Estado e do país.
Agora, o efeito do excesso de chuva dos últimos dias encontra terrenos já fragilizados. A vulnerabilidade é maior tanto por acúmulo de umidade e perda anterior de margens de contenção de rios nas planícies, como na Região Metropolitana, quanto por abismos abaixo e paredões acima já expostos e erodidos na Serra.
Com ainda menos vegetação para conter margens e encostas, a água encontra "pista livre" para invadir, inundar e provocar deslizamentos extras. Arrasta pontes, corta rodovias, morde pedaços de estrada perto de precipícios. Cobra, na forma de prejuízos que terão de ser recuperados, uma conta que estamos renegociando de forma unilateral, sem concordância da "outra parte".
A negociação possível com fenômenos climáticos é a prevenção. É mais eficiente, mais barata, poupa vidas. Os meteorologistas não dão notícias horríveis? Sim, porque são as que leem no comportamento do clima. Mas também se esforçam para mostrar os caminhos para amenizar o impacto, não das notícias, mas o dos fenômenos que não temos como controlar, apenas prevenir.
Para lembrar, a lista de tarefas que todos temos à frente, como sociedade:
- Redefinir, com novos critérios, as áreas que podem ser atingidas por enchentes, em áreas urbanas ou rurais.
- Treinar à exaustão equipes capazes de convencer moradores a se mudar - convencer, não expulsar.
- Criar rotas de fuga e estrutura para receber quem terá de deixar suas casas. Isso não significa gastar fortunas que não temos em grandes obras, mas adaptar espaços que já existem para ocupação temporária: escolas, ginásios esportivos e - por que não? - igrejas.
- Começar a ensinar as crianças, nas escolas, a como agir diante de intempéries.
- Avançar com urgência em sistemas de alertas antecipados que permitam salvar bens, e, principalmente, vidas.
- Vigiar para não desperdiçar nem mais um centavo, público ou privado, em planos de prevenção que não saem do papel.
- Mudar cálculos estruturais, tanto de obras públicas que definem a mobilidade humana e de carga quanto de projetos residenciais.
- Plantar árvores.
- Reforçar contenções nas estradas, sempre com barreiras naturais, quando possível, porque duram mais e funcionam melhor.
- Aumentar a permeabilidade do terreno: menos asfalto, mais grama.
- Investir em irrigação, porque a água que agora sobra pode faltar no futuro.
- Reforçar o sistema elétrico, para não agravar os estragos e atrasar o socorro quando desastres acontecem.