Como muitos gaúchos, a jornalista que assina esta coluna deve ao ambientalista José Lutzenberger as lições iniciais de ecologia e ambientalismo. Por isso, ficou tocada com o extenso e-mail enviado por uma de suas filhas, Lilly, comentando um texto que pedia socorro às árvores de Porto Alegre.
Primogênita do ambientalista, Lilly organiza o Acervo Lutz, o imenso legado escrito e documental deixado por seu pai em duas salas da central de reciclagem da Empresa Vida, fundada por Lutzenberger em Guaíba.
Como o que Lilly tem a dizer, com base no que aprendeu de seu pai, interessa a todos, a coluna considerou oportuno compartilhar com os leitores - depois de devidamente autorizada pela autora. Entre as frases que mais chamam atenção, duas vão em destaque por mostrarem que há, sim, espaço para a racionalidade nesse debate tão inflamado:
"Esses cuidados, além de gerarem árvores bem posicionadas, robustas e saudáveis, minimizam a necessidade de podas destrutivas depois."
"Uma poda bem feita e com conhecimento de causa é remédio, não mutilação adoecedora."
Os principais trechos
"Uma das grandes lutas de meu pai, o saudoso ambientalista José Lutzenberger, foi a defesa da arborização urbana. Desde o começo da década de 1970, ele não mediu esforços em prol das árvores, empenhando-se tanto in loco, quanto nos jornais e na televisão. Escreveu textos, artigos, cartas a secretários e prefeitos, oferecendo também consultoria técnica aos órgãos competentes. Por último, no final da década de 1990, já com a saúde debilitada, gravou um vídeo especialmente dedicado ao plantio, condução e poda corretos das árvores. Fez dezenas de cópias, as quais presenteou à prefeitura de Porto Alegre, assim como de outras cidades. Com resultados infelizmente irrisórios, como podemos constatar andando por nossas ruas. Atualmente, o material pode ser assistido em duas partes no Youtube, no "Canal Lutz Global", sob os títulos de "Dendrocirurgia 1: Lutz, Carneiro e as Árvores Urbanas" (clique aqui para assistir) e "Dendrocirurgia 2: Lutz Ensina Como Podar uma Árvore" (veja aqui).
"O problema começa bem antes do plantio. Muitos fatores precisam ser levados em conta: a escolha de espécies adequadas para cada localização, sejam calçadas, canteiros centrais de avenidas, praças, parques; o espaçamento necessário; altura, forma e envergadura da copa e o tipo de raiz. E, é claro, a forma correta de conduzir as mudas, de modo que cresçam com os troncos retos e as copas na altura certa para fornecer sombra e passagem seguras aos pedestres abaixo, trânsito desimpedido de carros e ônibus nas laterais e espaço para a fiação elétrica acima. Esses cuidados, além de gerarem árvores bem posicionadas, robustas e saudáveis, minimizam a necessidade de podas destrutivas depois."
"Então, quando necessária, uma poda bem feita e com conhecimento de causa é remédio, não mutilação adoecedora. As cidades do mundo preocupadas com a estética e qualidade de vida de seus habitantes, valorizam e executam estes trabalhos, os quais não pressupõe gastos exorbitantes, ao contrário, um manejo correto é mais barato e seguro do que a crônica bagunça e devastação que vemos nas nossas ruas. Árvores corretamente plantadas e mantidas, quebram e caem menos, ocasionando menores danos e prejuízos. O que acontece em Porto Alegre é vergonhoso, mas tem solução, é apenas uma questão de saber fazer certo. Desta forma, poderíamos todos desfrutar de uma cidade mais verde, sombreada, fresca, respirável e bela. Recomendo assistir ao acima mencionado vídeo de Lutzenberger. Nossa Prefeitura e órgãos ambientais deveriam se interessar mais pelo assunto, em prol da vida e do bem comum".