No final de maio, os presidentes da Petrobras, Jean Paul Prates, e da Transpetro, Sergio Bacci, esboçaram em Porto Alegre as bases de um plano de retomada da construção naval no Brasil. Ambos frisaram que não seria "a qualquer preço e a qualquer prazo", em uma referência ao fato de que o projeto anterior produziu equipamentos caros e com grandes atrasos.
Agora, o tema voltou à agenda a partir do lançamento da iniciativa BNDES Azul, focada nas atividades associadas ao oceano, quando o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, afirmou:
— Precisamos fazer navio. Já fizemos. Temos tecnologia e também temos erros cometidos para aprender e corrigir.
Ou seja, ao menos neste caso, existe autocrítica. Há consciência de que houve "erros cometidos" e que é necessário corrigir. Quando esteve em Rio Grande para oficializar o projeto-piloto de biorrefinaria, Prates também havia admitido equívocos no passado:
— Queremos assumir o compromisso de que vamos, de fato, recuperar a indústria naval em Rio Grande. A Petrobras será protagonista deste processo. Um processo diferente do passado, corrigindo erros, atualizando posições e olhando para a transição energética.
Em abril de 2008, na esteira da descoberta do pré-sal, a Petrobras chegou a anunciar a produção de oito cascos de navio "replicantes" - um igual ao outro - em Rio Grande. Aliada à montagem de plataformas, que havia iniciado com a P-53, esse movimento gerou milhares de vagas na cidade portuária gaúcha. Com dificuldades de mão de obra, de know how e sob pressão de alta de custos por aumento de demanda, o sonho desmoronou.
Agora, existem três estaleiros em operação no Brasil - Brasfels, no Rio; Jurong- Aracruz, no Espírito Santo; e o EBR, de São José do Norte. Segundo Mercadante, o novo plano é de médio e longo prazo, com ambição de "encarar o desafio de descarbonização da frota marítima". Seria, portanto, o "navio do futuro".
— Como um país que é um dos três no mundo que constroem e certificam avião não vai fazer, não pode fazer ou não deve fazer navio? — provocou Mercadante.
A descarbonização da frota é uma demanda da Organização Marítima Internacional (IMO), responsável pela regulamentação do transporte marítimo, que projetou necessidade de ter combustível renovável de 40% da frota marítima mundial até 2030.