A tempestade do último dia 16 acentuou o debate sobre eventuais riscos relacionados à vegetação. Enquanto moradores reclamam da inação da prefeitura ante pedidos de remoção de árvores que consideram ameaçadoras, cidadãos temem o corte indiscriminado, depois que podas malfeitas desfiguraram espécimes e ainda aumentaram o risco de quebra de galhos, por tirar a sustentação.
Na terça-feira (23), a prefeitura de Porto Alegre comunicou que articula, com "Estado e CEEE (...) cooperação para podas e supressão de árvores". A coluna foi perguntar à secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), Marjorie Kauffmann, quais critérios técnicos devem guiar esse trabalho.
Conforme a secretária, o governo do Estado já prepara um projeto, a ser enviado ao Legislativo, com regras para vegetação que tem propensão ou contato direto com a parte dos equipamento elétricos, sejam linhas de transmissão, linhas de distribuição, ou até as próprias subestações:
— Vamos trazer métricas de segurança para as vegetações que estão próximas à fiação elétrica, embaixo ou ao lado, por exemplo, um distanciamento de 15 metros para cada lado da fiação.
A coluna quis saber se "15 metros" é um critério técnico já definido, a resposta foi de que esse número é apenas "uma suposição". Foi um susto, porque se valesse para as árvores já existentes, Porto Alegre viraria um deserto. Menos mal que não será.
— Vamos estabelecer regras para novas ocupações com vegetação. As que já existem deverão passar por avaliação, mais urgente para as que oferecerem mais risco, promovendo substituição ou adequação. A ideia não é cortar árvores, apenas promover a convivência harmônica e segura.
Regras são, de fato, muito necessárias em tempos de mudança climática. Os critérios têm de procurar conciliar a redução de danos à rede elétrica e aos cidadãos com a preservação de uma arborização que protege duplamente as cidades, tanto absorvendo água e fixando o solo, quanto proporcionando sombra e frescor diante de aumento de risco de ondas de calor.
Ainda conforme a secretária, o governo estadual está incentivando que as prefeituras revisem ou elaborem planos diretores de arborização urbana e façam inventários para verificar a situação dos exemplares existentes atualmente. Segundo Marjorie, os critérios e parâmetros serão baseados em fundamentos técnicos, que vão determinar o tipo arbóreo mais adequado para cada região.
— O governo vai trabalhar nessas duas linhas, nas definições métricas da vegetação em contato ou com propensão de contato na parte de equipamentos elétricos, para definir as árvores que devem ser substituídas e as que devem ser plantadas para melhorar a qualidade do ambiente, mas que não tragam risco à população — complementa.
Com longa trajetória na Fepam, a secretária não ignora que as árvores não são vilãs, mas aliadas no combate às consequências da mudança climática:
— As árvores são importantíssimas, são equipamentos da urbanização. Ajudam na regulação de clima, dão conforto ambiental e térmico. Então, em momento algum ou hipótese alguma, estamos dizendo que não devemos ter árvores nas cidades. Mas é preciso seguir ritos, técnicas e métricas, para reduzir o risco de causar impacto nos temporais. Esse regramento vai ajudar na convivência harmônica entre o desenvolvimento, as cidades e o ambiente, condição para a boa sobrevivência e qualidade de vida das pessoas.
* Colaborou Mathias Boni