Haverá resistência ao plano do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que previu que "em até um ano e meio, dois anos, não terá mais app de Bradesco e Itaú".
A coluna consultou os bancos citados - mais o Banrisul, por sua relevância no Estado, e colheu ao menos uma oposição ao plano de Campos Neto.
Para lembrar, o presidente do BC anunciou o fim dos apps de bancos como parte da evolução de um novo sistema chamado Open Finance, que prevê compartilhamento das informações do cliente de determinada instituição financeiras com as demais. Em resposta à consulta da coluna, o Banrisul avisou que não vai se manifestar. Bradesco não enviou posicionamento até a publicação desta nota.
No entanto, outro banco deixou claríssima sua contrariedade, em nota enviada à coluna: "O Itaú Unibanco acredita que a existência de aplicativos agregadores não implica em qualquer incompatibilidade com os aplicativos atualmente existentes. Na verdade, entendemos que seja mais natural que os principais hubs de integração sejam exatamente nossos aplicativos próprios".
Um dos motivos da rejeição à ideia do BC é o pesado investimento dos bancos para criar e dar segurança a essa opção de conectividade, como fica evidente na nota do Itaú: "O nosso app, por exemplo, é uma solução já em uso por dezenas de milhões de clientes, conta com mecanismos de segurança bastante avançados e representa a materialização de uma trajetória de investimentos em design e tecnologia que permitiram tornar seu uso mais simples e intuitivo por nossos clientes".
Assim como todos os demais bancos do país, o Itaú aderiu ao Open Finance, e afirma que contribuir para sua evolução "dentro dos princípios de centralidade no cliente, é um compromisso que assumiu desde o princípio". Por isso, na nota, afirma que "continuará a receber todas as funcionalidades introduzidas", como a agregação de saldos e investimentos, já implementada.
Atualização: havia muita expectativa se o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reafirmaria ou não a tese do superapp nesta sexta-feira (17), quando participa de uma live organizada pelos jornais Valor Econômico e O Globo. E reafirmou:
— A intenção não foi dizer que o app do banco A ou B não tem qualidade, mas em algum momento vai fazer sentido que exista um superapp, que poderá ser desenvolvido por um banco ou por uma empresa, que reúna as informações de todos os bancos. Assim como houve disputa por produto, vai haver uma disputa por canais.
O que é Open Finance
O princípio é de que os dados bancários pertencem aos clientes, não às instituições. Por isso, o BC passou a exigir que as instituições financeiras cedam essas informações sem custo quando o cliente pedir. O objetivo é permitir que as pessoas movimentem suas contas em diferentes plataformas, e não só pelo aplicativo ou site do banco à qual estão ligadas. Veja mais detalhes na área do BC destinada ao assunto clicando aqui.
Os detalhes
O consentimento
É feito caso a caso, de forma individual, por prazo máximo de 12 meses. A instituição interessada em fazer uma oferta consulta o cliente sobre o interesse em compartilhar os dados e, se for autorizada, pede as informações ao banco que guarda os dados, com finalidade e prazo restritos. Se o correntista mudar de ideia, pode cancelar a qualquer momento.
O ambiente
As informações cadastrais e das operações que o cliente tem com seu banco não podem ser usadas pelo sistema financeiro como um todo, mas apenas por instituições com expressa liberação do interessado. A comunicação entre os bancos ocorre por plataformas API (sigla em inglês para protocolo de interface entre aplicativos), que permitem contato entre apps. O processo precisa de duplo consentimento: o cliente precisa autorizar a instituição X a pedir seus dados e a instituição Y a fornecê-los.
A segurança
O ecossistema do open banking já surgiu dentro das regra da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Até para autoproteção, a indústria bancária no Brasil é reconhecida por reunir alguns dos maiores especialistas na área de segurança cibernética. O investimento na arquitetura do open finance estimado em cerca de R$ 98 milhões, foi financiado em 90% pelos grandes bancos.