Antes da primeira reunião formal com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, esclareceu no Senado uma mensagem do Comitê de Política Monetária (Copom) que havia provocado muito impacto no mercado, fazendo a bolsa cair e o o dólar subir.
— Apesar de todo mundo entender a dificuldade de atingir a meta e ser muito difícil cortar gastos, não só agora neste governo, mas estruturalmente, é importante é persistir. E, mesmo que a meta não seja cumprida exatamente, acho que os agentes econômicos vão ver qual foi o esforço que teve em direção de cumprir a meta — afirmou Campos Neto.
Como a coluna havia mencionado, uma frase meio perdida no comunicado do Copom - seguida por um pequeno parágrafo na ata - havia provocado reação negativa no mercado. A palavra usada foi "persecução" (que não é exatamente banco-centralês, mas está longe do dia a dia, até do mercado financeiro). Se tivesse empregado "persistência", como fez Campos Neto na quarta-feira (28), o barulho teria sido menor, porque a mensagem teria sido melhor entendida.
O que agora ficou claro é que os diretores do BC tentaram dar apoio à tese do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que mesmo sem certeza de cumprir o déficit zero, é preciso assumir compromisso nesse sentido. E foi esse o tom que permeou, também, a primeira reunião entre Lula e Campos Neto. Diante das pressões políticas para rever a meta mesmo antes de começar a persegui-la, Haddad tem um aliado na presidência do BC.
A importância de perseguir, mesmo sem ter certeza de atingir foi abordada, em entrevista à coluna, pelo economista do Ibre-FGV Bráulio Borges. Exatamente com o mesmo argumento: "vai ficar claro que houve esforço e o governo tende a ser premiado, do ponto de vista de mercado, o que significa menos pressão no câmbio e no juro longo".