O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
Um mês depois do lançamento oficial do Drex – o real digital – os testes com a moeda seguem a todo vapor nos bancos e instituições que participam dessa etapa com duração prevista até maio do ano que vem. No início de setembro, Banco do Brasil e Caixa fizeram uma das transações. Em agosto, o consórcio SFCoop, com Sicoob, Sicredi, Cresol, Ailos e Unicred, havia testado com sucesso a primeira transferência interbancária em parceria com o Banco do Brasil.
Na semana passada, o Agibank também obteve a inclusão no consórcio da Associação Brasileira de Bancos (ABBC) e passa a integrar o projeto piloto. A primeira ação foi entre BTG e o Itaú, em julho, e existem muitos outros envolvidos.
A celeridade nos testes garante ao Brasil posição de vanguarda na implantação da moeda digital CBDC. Ou seja, um dinheiro soberano, emitido pelo próprio Banco Central (BC) de cada país, concebido em uma plataforma digital. Essa, aliás, é a diferença do Drex para as demais criptomoedas, como o Bitcoin, por exemplo, que é validado apenas por uma rede de usuários. Todavia, em ambos a plataforma utilizada é a mesma: o blockchain.
Advogado, economista e ex-presidente da Associação Brasileira de Direito e Economia (ABDE) e do Instituto de Direito e Economia do Rio Grande do Sul (IDERS), Manoel Gustavo Neubarth Trindade lembra que estudo do Atlantic Council aponta: os 114 países, que, juntos, respondem por 95% do Produto Interno Bruto (PIB) global desenvolvem suas tecnologias de implantação.
Significa um salto de 225% em três anos, já que em 2020 eram 35 as nações que consideravam adotar um CBDC. Há 60 países em fase avançada de exploração (desenvolvimento, piloto ou lançamento). Onze, entre eles a China, lançaram moedas digitais. Em 2023, são 20 os que avançam em direção ao lançamento. O Brasil, que prevê o início das operações no final de 2024, figura na lista ao lado de Austrália, Índia e Coreia do Sul e outros.
Três anos antes, surgia o Pix, hoje, o pagamento preferido dos brasileiros, que serviria de modelo para sistema semelhante do Fed (o BC dos EUA). Ainda que o Drex seja mais uma das mudanças que, num piscar de olhos, estará inserida na rotina da população, seus efeitos são mais extensos, pois não se restringem aos meios de pagamento e, na esteira, virá uma gama de inovações, caso dos contratos inteligentes e da fragmentação de valores mobiliários.
Essa, explica Trindade, tem potencial de se tornar a maior evolução do sistema financeiro e econômico de que se tem notícias, uma vez que alcança toda a economia e o mercado financeiro em especial, desde o Estado até os bancos e o mercado de capitais.
Todos preparados?