O jornalista Anderson Aires colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian, enxerga espaço para corte mais incisivo no juro nesta semana. Bons sinais da inflação e subida de degrau do país no ranking dos bons pagadores calçam essa estimativa, segundo especialista. No âmbito do crédito, ele observa cenário ainda restrito, com linhas de menor qualidade em alta.
Qual deve ser a decisão do Copom na quarta-feira?
Com certeza haverá corte, acho que já de 0,50 ponto .
O que banca um corte desse tamanho?
Tem dois elementos. O IPCA-15 mostrou deflação e núcleos desacelerando. E a revisão da nota de risco do país, que aumentou. Ajuda a formar quadro favorável para um corte inicial de meio ponto.
Essa é a primeira reunião com dois indicados de Lula no Copom. Isso influi no balanço?
Acredito que sim. Acho que a gente deverá ter um um comitê um pouco mais inclinado a aproveitar os espaços possíveis para que a taxa de juro caia da forma mais rápida possível. Imagino que vai ter mais votos dentro do comitê para pra quedas mais agressivas da taxa de juros. A discussão daqui pra frente nas próximas reuniões não é se se o Copom vai reduzir ou não a Selic. A tendência de queda dos juros é praticamente dada. A discussão dentro do Copom vai ser o da intensidade dos cortes. E esse nova composição do comitê, com o ingresso dessas duas pessoas, acredito que vai pesar mais os votos na direção dos cortes mais agressivos, de meio ponto.
O que explica a queda da inadimplência dos consumidores no país em junho?
Aquilo que fez a inadimplência subir, agora está fazendo cair. É a inflação, que ficou rodando acima de 10% durante vários meses e fez todo o estrago na vida financeira de milhões de brasileiros. Também tem o efeito juro. Agora, com alguns registros de deflação, com o mercado de trabalho ainda gerando empregos, a renda gerada não está sendo corroída pela inflação.
O que barra uma reversão mais forte?
A queda nos preços precisa continuar para a recomposição da renda real. E o outro fator é juro. Porque, mesmo que as pessoas não se endividem mais, com o juro alto, segue o peso das prestações, do valor para cobrir o cheque especial. O que falta agora é tempo. Já estamos encaminhados e praticamente contratamos, do ponto de vista macroeconômico, um novo cenário para a inadimplência, mais benigno.
Qual o peso dos programas Desenrola e do Renegocia nesse cenário?
São impactos pontuais. Funcionam de maneira parecida com os feirões que a própria Serasa faz ou quando ocorre o ingresso do 13º na economia. Podem ter um empurrãozinho adicional, mas não são essas ferramentas que vão reduzir de forma consistente ou permanente a inadimplência. Esses programas estão sendo colocados em um momento no qual as condições macroeconômicas estão apontando para uma direção de queda da inadimplência. Então, vão ajudar, dar um empurrãozinho a mais.
Quando o crédito vai começar a ficar menos restritivo?
Está ocorrendo uma desaceleração do crédito. Ou seja, o crédito está crescendo, mas a taxas cada vez menores. Quando você abre as carteiras, por exemplo, o que está puxando crédito de pessoa física neste ano é basicamente duas linhas: o rotativo do cartão e o cheque especial, o chamado crédito do desespero, de curtíssimo prazo. Se você pegar financiamento imobiliário, crédito consignado, empréstimos pessoais, o volume de concessão menor neste ano. Algumas linhas estão começando a mostrar algum sinal de vida, como é o caso de veículos por exemplo, que pode estar ligado em parte ao programa de incentivo do governo. Na medida em que a taxa de juros for caindo, as outras linhas, que são do crédito de melhor qualidade, vão começar a ganhar um pouco mais de consistência. Hoje só está crescendo o crédito do desespero.
Na parte das empresas, a inadimplência já influencia no número de recuperações judiciais?
A recuperação judicial é uma etapa final de um processo. Primeiro a empresa paga em dia suas contas, aí por algum problema começa a atrasar pagamento, mas continua pagando, depois chega uma hora que ela começa a não pagar determinados credores. Chega uma hora que essa inadimplência acumula tanto que vira insolvência ou praticamente isso. Aí pedem recuperação judicial ou os credores solicitam falência. Para que a recuperação judicial, que esse ano está crescendo, cair é preciso que a inadimplência das empresas comece a recuar
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