Especialistas em pesquisas de opinião costumam dizer que a memória do eleitorado dura seis meses. Mesmo quem aposta na capacidade humana de esquecer momentos históricos dramáticos teria pudor de proclamar, como fez o ex-presidente Jair Bolsonaro, que ele apenas "contestou o sistema de votação".
Retomando a produção diária de ultrajes, fez de conta que não há uma "minuta de golpe" no arquivo de seu ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, nem um roteiro para a intervenção que só não foi seguido, segundo seu ex-ajudante de ordens, porque "o PR não confia no ACE (Alto-Comando do Exército)".
Faz parte do jogo democrático ouvir todos os seus atores, de todos os espectros políticos, da extrema direta à extrema esquerda. Mas ouvir um ator que mina a essência do jogo democrático requer também lembrar que esse personagem não tem compromisso com essas regras.
Como está claramente desenhado a essa altura - o que obrigou a coluna a admitir erro ao chamar de bravata as sucessivas, reiteradas e constantes ameaças de intervenção - foi por muito pouco que o Brasil não assistiu a uma nova tentativa de ruptura institucional.
E como já disse um colega mais sábio, não é porque um crime não deu certo que não deve ser punido, vide as previsões penais para tentativa de homicídio e outros. É o que pode ocorrer ainda na próxima semana no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), caso o plano de ganhar tempo com o pedido de vista ao processo que deve tornar Bolsonaro inelegível também fracasse.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo