Os dados do Boletim Focus confirmaram os ajustes de previsão na esteira do inesperado Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) do primeiro trimestre acima das expectativas, em 2,41%.
Nesta segunda-feira (22), a mediana (mais frequente) das estimativas para o PIB avançou de 1,02% para 1,2%, a da inflação baixou de 6,03% para 5,8% e a do câmbio, de R$ 5,20 para R$ 5,15. Isso não significa céu de brigadeiro, mas os indicadores serão os maiores aliados que tem torce pelo início dos cortes no juro básico.
E embora seja um dado que - em tese - quase todo mundo tem, sempre é bom lembrar: o Boletim Focus é resultado da consulta do Banco Central (BC) a cerca de uma centena de instituições do mercado financeiro e consultorias econômicas. Até onde se sabe, a torcida de todos é por ganhar dinheiro.
Como economistas advertiram ainda na sexta-feira (18), porém, a melhora, por enquanto, é devida a uma safra agrícola nacional acima da prevista, portanto de duração limitada. Para o segundo semestre, não descartam sequer um cenário recessivo, por força da concessão de crédito mais seletiva - por motivos macro (juro alto) e micro ("evento" Americanas).
Na mesma segunda-feira (22), em evento do jornal Folha de S.Paulo, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, não apenas evitou responder quando o juro vai começar a cair - até aí, não faz mais do que o cargo recomenda -, mas desenhou um cenário sem corte na Selic à vista.
Mas Campos Neto também afirmou que uma mudança de meta de inflação não é uma quebra de tabu - "faz parte das regras do jogo o governo definir a meta que quer ter e o BC ter as ferramentas de forma autônoma para perseguir a inflação". Ressalvou que é preciso cuidado para alterações feitas em fases de "questionamento".
— Às vezes, mudanças feitas para gerar eficiência podem ser interpretadas como mudanças para ganhar flexibilidade. Temos elementos históricos de que esse não é caminho. Melhor caminho é perseguir a meta e melhorar eficiência do regime.
Sabe-se que existe um estudo em preparação no Ministério da Fazenda sobre meta de inflação, até agora praticamente meio secreto. Se mudanças em tempos de "questionamento" são complicadas, sem debate, são ainda mais. É preciso cuidados para evitar tropeços.