— Parece um Boeing — reagiu Paulo Cordeiro, motorista da RBS que levou a equipe de jornalistas com expectativa de voar no dirigível ADB-3-3, da Airship do Brasil, ao Aeroclube Belém Novo, onde o gigante acabava de pousar.
Acontece que Paulo sabe de proporções aéreas: seu pai, Vicente, trabalhava na Varig, e ele cresceu vendo Boeings e Airbus. Se impressiona visto a distância, no ar, em terra a aeronave parece ainda maior. Para lembrar, os 46 metros de cumprimento do "envelope", nome técnico do balão, a parte mais visível, equivalem a meia quadra padrão.
No entanto, depois do sobrevoo de chegada à Capital, no final da manhã, a aeronave não pôde mais subir. Condições atmosféricas, um contratempo com o tipo de gás hélio disponível no local e necessidade de ajustes mecânicos após a longa locomoção desde São Carlos (SP) retiveram a aeronave em solo.
Esse tipo de problema decorre, em parte, do fato de o dirigível ser o único de sua espécie no Brasil. A gôndola, parte que carrega o piloto e os passageiros, é feita em aço aeronáutico importado dos EUA, e o material do envelope é tão secreto que, para comprar, a Airship teve de assinar um contrato de confidencialidade.
Esta é a primeira viagem comercial da aeronave. Enquanto a coluna aguardava ao lado do equipamento por um último ajuste para tentar voar — que não se concretizou, depois de uma espera de quase cinco horas —, uma pessoa se aproximou da cerca que isola a área e gritou, ao longe:
— Vocês vão ficar aqui?
Ao ouvir a resposta positiva, voltou a gritar:
— Então vou trazer as crianças.
Quem teve a ideia — e as condições — para trazer o "navio do ar" a Porto Alegre foi Afrânio Kieling, presidente da Fetransul:
— Me chamaram de louco — lembrava, divertido, com o dirigível a poucos passos e uma longa lista de candidatos a fazer passeios.
O capitão da aeronave, Charles Chueiri, é o único no Brasil habilitado a conduzir a aeronave. Aprendeu nos Estados Unidos, em uma empresa que desenvolvia esse tipo de equipamento, chamada Light Ship Group. Antes, pilotava caças F5 na Força Aérea. Guardião severo da segurança dos voos, Charles só confirma a partida se todas as condições estão garantidas. Como não se concretizaram até o final da tarde desta terça-feira (28), vai ser preciso esperar um pouco mais.