Antes e depois do anúncio do governo Lula de que a mistura de biodiesel no diesel subiria de 11% para 12% neste ano e para 15% até 2026, uma polêmica entre entidades empresariais deixou donos de veículos movidos com esse combustível inquietos.
Em nota, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) e outras nove entidades sustentaram que a maior proporção resultaria em "grave ampliação da poluição atmosférica" e redução da "eficiência energética dos motores, aumentando o consumo". Três associações do segmento de biocombustíveis (Abiove, Aprobio e Ubrabio) rebateram. Mas, afinal, o biodiesel tem ou não tem problemas técnicos?
Em uma nota mais detalhada, que já não está mais disponível, as entidades afirmavam que o biodiesel brasileiro tinha excesso de ésteres (compostos orgânicos), o que prejudicava os motores, e que melhor seria o país apostar no HVO (sigla em inglês para óleo vegetal hidrotratado), também conhecido como diesel verde. A coluna ouviu Julio Minelli, diretor-superintendente da Aprobio, para entender melhor a polêmica.
Excesso de ésteres
O processo de obtenção de biodiesel, seja de soja, palma, algodão, girassol ou sebo bovino - as principais matérias-primas - é chamado de transesterificação, que retira parte da gordura do óleo para transformar em combustível. Logo, pondera Minelli, necessariamente há muitos ésteres. Mas afirma que a especificação do biodiesel no Brasil é mais rigorosa do que nos Estados Unidos e até na Europa. Como exemplo, cita o tempo de estabilização da oxidação, que é de seis horas nos EUA, oito horas na Europa, e aqui é de 12 horas. Esse foi um parâmetro adotado para atender a uma exigência dos fabricantes de veículos no Brasil, representados pela Anfavea.
— Nos EUA, vários Estados, mas especialmente no Minnesota, que é um grande produtor de soja, a mistura chega a 20% na maior parte do ano.
Diesel verde
Na avaliação de Minelli, é um "produto excepcional", por ter a mema formula química do diesel de petróleo, portanto pode ser usado puro sem qualquer preocupação. Mas pondera que, se há queixas porque o aumento de dois pontos percentuais na mistura vai tornar o litro do produto final R$ 0,02 mais caro, atualmente o diesel verde custa de 70% a 80% a mais.
— Não temos esse produto no Brasil. Uma usina de diesel verde exige de cinco a seis vezes o valor do investimento em uma processadora de biodiesel. Nós defendemos incentivar a criação de biorrefinarias de HVO. Mas é preciso ter uma política pública que tenha mandato para desenvolver esse biocombustível. Se forem instaladas ao lado de refinarias tradicionais, o custo pode baixar porque aproveita parte da infraestrutura – pondera.
Efeito compensador
Segundo Minelli, o diesel S10, com menor teor de enxofre com uso obrigatório em grandes centros, tem menor poder lubrificante. A maior proporção de biodiesel, afirma, devolve essa característica ao combustível resultante da mistura.