Estudo atualizado a cada trimestre pela Tendências Consultoria, o mais recente Relatório de Classes de Renda e Consumo no Brasil traz um sinal preocupante para o Brasil: o país deve terminar o ano mais pobre do que 10 anos atrás .
Mas para a Região Sul, há perspectiva positiva: além de já ter a menor proporção de domicílios das classes D e E (41,1% em 2022, ante 55,4% da média nacional), em 10 anos deve ter a maior parte das famílias (42%) na classe média, nos padrões do estudo com renda de R$ 3,1 mil a R$ 7,5 mil.
Conforme Lucas Assis, analistas da Tendências, embora mais lenta do que a desejável, a mobilidade social deve ser mais intensa no Sul porque a região é mais dependente de ganhos com salários do que a média nacional. As faixas de renda do estudo (veja detalhamento abaixo) incluem todos os tipos de rendimento, de programas sociais a rendimento financeiro e ganho de capital. No país, 91,2% da renda da classe C vem do trabalho, enquanto na D/E é de 46%.
— A Região Sul já tem a menor proporção de domicílios na classe D/E. Nossa previsão é de que essa faixa caia para 34% em 2032, enquanto a classe C suba dos atuais 39% para 42%, em uma reversão de posições — detalha o economista.
A coluna, claro, quis saber quais são as condições para que essa melhora se confirme. Assis ponderou que não se trata de uma previsão otimista - a média de crescimento anual para o país é de 2% nos próximos 10 anos, o que é muito pouco. Mas como esse avanço lento deve ser focado na melhora do mercado de trabalho e o Sul é mais dependente de renda de salários, além de uma situação já mais favorável, tende a ser favorecido.
— Por mais que o Brasil tenha muita desigualdade, o Sul é relativamente menos pobre e se beneficia da elevação da renda média do trabalho, com vagas de emprego de melhor qualidade, daí o cenário mais positivo do que média nacional — detalha o analista.
Na média nacional, ressalva Assis, a situação não é alentadora. O economista aponta boas notícias, como a recuperação do mercado de trabalho acima da esperada, nos últimos meses com alguma melhora qualitativa, ou seja, com crescimento da ocupação impulsionada pelo emprego formal. Ainda assim, observa, a estratificação social não deve retomar o nível anterior à pandemia, dada a recuperação muito lenta.
— A covid-19 deteriorou muito o mercado de trabalho de grupos de maior vulnerabilidade, que já estavam frágeis, antes, com a recessão. A ocupação se recupera mais tardiamente em postos de baixo rendimento e menor remuneração — justifica Assis.
Na média nacional, a mobilidade social das classes D e E deve ser reduzida nos próximos anos, "acompanhando um fenômeno típico de países com alta desigualdade de renda". Conforme o estudo, o maior entrave ao crescimento da renda dos estratos sociais mais pobres é a educação não revertida em produtividade. Assis destaca, ainda, que a entrada no mercado de trabalho é o principal meio de redução da pobreza, mas não é "condição suficiente" para superá-la, por ser caracterizado por baixas remunerações, elevadas desigualdades, altas taxas de informalidade e grandes diferenças entre setores produtivos.
A Tendências faz estudos dirigidos principalmente ao mercado. O Relatório de Classes de Renda e Consumo no Brasil (clique aqui para ver a íntegra), por exemplo, traz informações sobre padrões e tendências de consumo que permitem embasar decisões empresariais. Integra o Top 5 do Banco Central e Podium Fiscal do Ministério da Economia, que destacam o grau de acerto das projeções das instituições.
A estratificação do estudo no Brasil
Classe | Faixa de renda por domicílio | Proporção do total
A | Acima de R$ 23,3 mil | 3,1%
B | R$ 7,5 mil a R$ 23,2 mil |12,8%
C | R$ 3,1 mil a R$ 7,5 mil | 28,8%
D/E | Até R$ 3,1 mil | 55,4%