A seis dias do primeiro turno das eleições 2022, o dólar teve alta de 2,5% para R$ 5,381 nesta segunda-feira (26) - e durante o dia, chegou a atingir a máxima de R$ 5,41. Se até agora não havia estresse eleitoral no mercado, nem com uma eventual vitória de Luiz Inácio Lula da Silva em primeiro turno, o que impactou o câmbio?
Desta vez, boa parte da pressão altista veio do Exterior: a moeda americana se valorizou ante várias outras denominações com a redução de tributos no Reino Unido e indicadores abaixo do esperado na Alemanha, que aumentaram o temor de recessão na Europa. Claro, a reta final da campanha presidencial também afetou os humores de investidores e especuladores.
No Exterior, o plano de corte de tributos da nova primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, fez a libra ser cotada pelo menor valor da história ante o dólar, em 1,0384. Isso ocorreu porque a benesse terá de ser compensada por emissão de dívida, de forma semelhante ao que ocorreu no Brasil com o corte de ICMS.
Depois, a libra recuperou parte do valor, mas seguiu perto do piso histórico. O índice DXY, que mede o peso do dólar em relação a seis moedas de países desenvolvidos, também teve a maior alta desde 2002. A alta de juro nos EUA provoca, na prática, o efeito descrito na teoria: investidores correm para a segurança do dólar, que agora oferece melhor remuneração, mesmo ainda abaixo da inflação acumulada em 12 meses.
Além das questões externas, houve uma "coincidência": assim como o anúncio de apoio do ex-ministro Henrique Meirelles havia animado o mercado em relação à perspectiva de vitória de Lula, como essa hipótese ficou menos provável entre o final de semana e a segunda-feira (26), também contribuiu para a alta.
No domingo, na quadra da Portela no Rio de Janeiro, Lula reafirmou, depois de Meirelles ter dado entrevista dizendo que acabar com a medida seria um erro:
— Acabou o teto de gastos quando eu for presidente da República.
Criador do teto, Meirelles, por sua vez, deu entrevista publicada nesta segunda-feira (26) ao jornal Valor Econômico afirmando que seu foco agora está na atuação como conselheiro da Binance - que se apresenta como provedora global de infraestrutura para o ecossistema de blockchain e criptomoeda - e que não tem "planos de ir para o setor público":
— Não acredito em trabalhar no setor público e no privado ao mesmo tempo, pois o Estado demanda absoluta concentração e foco total, evitando qualquer conflito de interesse.
O sinal de que as eleições têm uma pitada de responsabilidade é o fato de que o real teve o pior desempenho entre 33 moedas de países ricos e em desenvolvimento.