A boa surpresa com o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre se estendeu ao ano todo. As projeções para a atividade econômica do Brasil, que no final de 2021 eram de estagnação ou até queda, viraram para crescimento de 1,59%, conforme o mais recente Boletim Focus, e até de 2% para um dos maiores bancos do país, o Itaú Unibanco.
A projeção foi detalhada nesta terça-feira (12) pelo economista-chefe da instituição, Mario Mesquita, a um grupo de jornalistas. Essa melhora do desempenho do Brasil, afirmou, decorre de três fatores principais: uso da poupança forçada pela pandemia, ganhos do país com exportação de matéria-primas e redução de tributos.
Conforme a projeção do Itaú Unibanco, o PIB do segundo trimestre deve ter alta de 0,8% ou pouco acima. Neste segundo semestre, o cenário muda, com estagnação positiva (0,1%) no terceiro trimestre e negativa (-0,1%) de outubro a dezembro. Em 2023, porém, tem freio à vista: a estimativa para o PIB é de 0,2%. Segundo Mesquita, o que mais preocupa são "sinais de uma desaceleração importante da economia global". Em alguns países, haverá recessão, prevê o economista que já foi diretor de política econômica do Banco Central (BC):
— Se antes o tom era de recuperação, para combater os efeitos recessivos da pandemia, claramente agora é de combater a inflação. E não há outra terapia que não seja aumento da taxa de juro. Na história mundial, tudo já foi tentado, e o que resolve é a política monetária. Desde o Império Romano, passando por malfadados planos heterodoxos do Brasil, está claro que controle de preços não funciona. A maior prova disso é a Argentina, que tem preços controlados e inflação caminhando para 100% ao ano.
Uma das principais consequências desse cenário para o Brasil, disse Mesquita, é sobre o câmbio. Conforme o economista, o "ambiente externo mais pressionado" impede a apreciação do real. Por isso, avalia que o patamar atual, perto de R$ 5,30, deve se manter. E para tentar explicar porque o Brasil começou a elevar o juro muito antes dos demais países, mas segue com inflação alta, lembrou de uma analogia dos tempos da faculdade:
— A defasagem da política monetária (que os manuais estimam entre seis e nove meses) é como o sujeito no chuveiro. Abre a água quente, não aquece, abre mais, até que sai jorro fervendo e o sujeito se queima. Estamos no momento de olhar para a torneira, mas não é prudente ficar abrindo sem parar.
Não descartou, porém, que se a inflação seguir elevada ao longo deste ano, pode ser um sinal de que a taxa neutra de juro tenha subido. A coluna quis saber se as medidas do governo Bolsonaro, que afrouxam a política fiscal enquanto o BC tenta apertar a política monetária, põem em risco o efeito do remédio amargo, como já ocorreu em outros períodos.
—A história sugere que nossa sociedade está bastante acostumada a viver em cenário em que a política monetária freia e a fiscal acelera. Em outros países, é bem diferente. Isso está associado à cultura de um país em que se espera muita coisa do Estado (no sentido de poder público). O mix que se observa agora não é estranho à experiência brasileira. Às vezes, temos estímulo fiscal vindo do lado do gasto, às vezes de redução de impostos.
Para Mesquita, as medidas de reforço de auxílios e redução de impostos têm custo elevado. A estimativa do banco, de R$ 210 bilhões em 12 meses, corresponde a 2,2% do PIB, em linha com a projeção do Instituto Internacional de Finanças (IIF). O economista ainda avalia que há alta probabilidade de "perenização" das bondades, ou seja, o que é temporário, como aumento do Auxílio Brasil, pode se tornar definitivo.