Sim, só a menção ao nome da Utresa já provoca arrepios. Afinal, há 16 anos, o Rio dos Sinos virou notícia com a maior mortandade de peixes da história do Estado.
Em outubro de 2006, foram recolhidas cerca de 90 toneladas de peixes mortos por contaminação da água. Em investigação comandada por Ministério Público Estadual, Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Polícia Civil e secretarias de meio ambiente, a Utresa foi acusada de descarte irregular de efluentes sem tratamento adequado.
Uma das punições foi a exigência de investimentos para resolver o problema. Os aportes chegaram a R$ 14 milhões e, no mês passado, a Fepam afirmou que "não há mais ações de intervenção na área a serem realizadas". No processo administrativo 5060/14-8 – LU, de 12 de maio, avalia ainda que "poderá ser dada continuidade do monitoramento no processo de Licença de Operação do empreendimento".
Agora, um grupo de empresários negocia o arrendamento de parte da área da Utresa, no Vale do Sinos. A intenção é transformar a antiga vilã em referência em tratamento de resíduos e efluentes, como quando, na década de 1980, foi pioneira na solução de problemas ambientais para as indústrias do setor coureiro-calçadista.
A coluna não desconhece o ditado sobre o destino de muitas boas intenções, mas há um precedente relevante no Estado: a então vilã Borregaard (conheça os detalhes relatados pelo colega Marcelo Gonzatto clicando aqui) foi alvo de José Lutzenberger, corrigiu seu rumo ao contratar o ambientalista como consultor de um amplo programa de adequação. Atualmente, a sua sucessora, a CMPC, conduz o maior investimento em sustentabilidade da história do Estado, no valor de R$ 2,75 bilhões.
As negociações, em fase avançada, envolve investimento inicial de R$ 7,5 milhões. A Utresa, em Estância Velha, tem vida útil limitada. A intenção é investir em novas soluções e infraestrutura para tratamento de resíduos líquidos, para começar, e sólidos, no médio prazo, gerar energia a partir desses rejeitos e contribuir para o ecossistema de negócios sustentáveis. Em troca, a empresa vai gerenciar os efluentes gerados pela Utresa nos próximos 20 anos, conforme determina a legislação. A coluna, que tem foco em sustentabilidade, torce para dar certo, mas estará alerta se der errado.