Enquanto o país bate cabeça para tentar descobrir uma forma de suavizar o aumento nos preços dos combustíveis e evitar o risco de desabastecimento de diesel, é preciso fazer contas.
Uma das hipóteses para garantir que toda a demanda de diesel será atendida seria o aumento na adição de biodiesel ao diesel fóssil. Como é nacional e não depende de petróleo, essa produção pode oferecer um seguro contra a escassez.
O gaúcho Francisco Turra, presidente do conselho de administração da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), defende a elevação da mistura do biodiesel como "solução caseira" para afastar a ameaça da falta de diesel no Brasil. Apesar de afirmar que não acredita em escassez, afirma que só a elevação da mistura de 10% para 12% já representaria um acréscimo de 1,3 bilhão de litros por ano no Brasil.
— O ideal seria elevar a 14%, mas se for pelo menos a 12%, dá um sinal positivo. Segundo a resolução nº 16/2018 do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), a proporção deveria ser de 13% até março de 2022, e, a partir daí, de 14%, mas hoje ainda está em 10% — ressalta.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em abril (data com dados mensais mais recentes disponíveis) as distribuidoras venderam 4,9 bilhão de litros. O acréscimo na disponibilidade da adição de 12%, portanto, daria para cerca de uma semana, apenas. É um alívio, mas não é solução.
Caso de fato não surja necessidade de racionamento, o que já ocorre na Argentina, agravada por questões cambiais, Turra afirma que o aumento na proporção de biodiesel à mistura reduziria a necessidade do Brasil de importar diesel importado.
— Essa elevação também reduziria bastante a necessidade de importação e favoreceria imensamente o setor nacional, que faz um produto bom para o ambiente e tem 50 empresas gerando emprego no país. O Rio Grande do Sul é o maior produtor de biodiesel do Brasil, então para o Estado teria um efeito ainda maior — acrescenta.
Seria preciso elevar ainda mais a proporção na mistura para que a alternativa represente de fato uma resposta à escassez de diesel que se desenha. Conforme uma fonte do setor, o Brasil importa cerca de 20 navios de diesel por mês. Cada ponto ponto percentual a mais de biodiesel na mistura, significaria um navio a menos.
* Colaborou Mathias Boni