Nos últimos meses, um número havia se tornado uma obsessão do mercado financeiro: 0,75 ponto percentual. Toda vez que subia a probabilidade de uma alta de juro desse tamanho nos Estados Unidos, bolsas despencavam e dólar subia.
Nesta tarde de quarta-feira (15), a ameaça virou realidade. Apesar de todo o debate em torno dos famosos 0,75 p.p., a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) de elevar nessa proporção a taxa básica americana ainda surpreendeu. A bolsa brasileira, que subia pela primeira vez depois de oito quedas seguidas, quase zerou os ganhos, mas voltou a se valorizar, tudo em pinotes.
A reação do Fed não deveria ter sido tão surpreendente depois que a inflação nos Estados Unidos decolou em maio e alcançou 1% no mês. Mas a dosagem, como a coluna já explicou (leia clicando aqui), é uma extravagância histórica. Nos EUA, há raros momentos em que a taxa de juro subiu nessa proporção de uma vez só. O Fed costuma calibrar a taxa de referência em ritmo cauteloso, de 0,25 ponto por reunião.
A decisão eleva a pressão que já existia sobre a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O momento em que a informação chegou à diretoria do BC mereceria uma menção do comunicado que será divulgado no início da noite desta quarta-feira (15). Se antes desse "choque" a maioria dos economistas avaliava que o BC nacional não fecharia a porta para novas altas por aqui, agora é mais provável que fique escancarada.
Conforme André Perfeito, economista-chefe da Necton, a decisão "mais alta do que o consenso" de 0,5 ponto percentual de fato não deveria ser surpresa:
— Há alguns dias o mercado vinha estressando, subindo a taxa de contratos mais longos. O Fed resolveu enfrentar mais diretamente a inflação, e essa alta está reorganizando a curva de juros por lá, sancionando a visão mais altista do juro.