Um dos argumentos dos defensores da privatização da Petrobras é de que ter estatal de petróleo é coisa de país terceiro-mundista, como Brasil, México e Venezuela. Será mesmo? Países escandinavos estão entre os que melhor equilibram desenvolvimento econômico e qualidade de vida e um dos nórdicos tem, sim, uma estatal de petróleo. Sem planos para vendê-la.
Trata-se da Equinor, a estatal da Noruega, até março de 2018 conhecida como Statoil (algo como "óleo do Estado", para não deixar dúvidas). Mas a mudança de nome não representou menor estatização, ao contrário.
A coluna aproveitou que tem um "correspondente" na Noruega para ajudar a explicar melhor qual é a relação dos noruegueses com sua estatal de petróleo. O jornalista Cadu Caldas, que já escreveu para a coluna, mora na Noruega desde 2019.
— A marca é muito forte aqui, eles têm muito orgulho. Mas, ao mesmo tempo, os noruegueses fazem uma pressão enorme para uma mudança mais verde. Então, a relação básica é um misto de orgulho e crítica. Talvez porque a população seja menor, há apenas 5 milhões de habitantes no país, a empresa é muito mais próxima das pessoas. Todo mundo tem algum parente que trabalha ou trabalhou na Equinor — relata o jornalista.
Com a guerra, os preços dos combustíveis também dispararam na Noruega, relata, mas ninguém atribui à Equinor a "culpa" pela situação:
— É tácito que é resultado da conjuntura.
Outra diferença, descreve, é que eventuais cobranças ou críticas são sempre dirigidas à instituição, não à pessoa no comando, ou ao ministro encarregado da área, ou ao governo. Na Noruega, existe uma reserva criada com recursos que o governo arrecada da extração de petróleo, considerado a maior controlada por um governo no mundo: o Fundo de Pensão Governamental Global (GPFG), que tem cerca de US$ 1,4 trilhão (quase equivalente a todo o PIB anual do Brasil).
— O fundo é superrico, mas os noruegueses são contra gastar o dinheiro. Durante o combate à covid, foi preciso usar recursos de lá e houve protestos — exemplifica.
Então, qual é a principal reivindicação dos noruegueses em relação à sua estatal de petróleo? Que seja menos "de petróleo", responde:
— Tem uma pressão popular bem grande para expandir o negócio para além do petróleo. E a empresa faz um grande esforço para comunicar todas as ações que toma em direção a um futuro mais verde. Em paralelo, o governo facilitou muito as regras para aquisição de carros elétricos. Oslo é o lugar onde tem mais Tesla (marca dos carros elétricos do bilionário Elon Musk) per capita. Quem compra Tesla não paga VAT (imposto sobre consumo) nem sobre emissões, desembolsa menos nos pedágios e pode dirigir na linha dos ônibus. Em alguns anos, vai ser proibido entrar em Oslo com carro com combustível fóssil.
Resultados de petroleiras no primeiro trimestre (em US$ bilhões)
Petrobras* 8,6
Shell 7,1
Chevron 6,3
Pemex* 6,2
PetroChina* 6,2
ConocoPhillips 5,8
Exxon 5,5
CNOOC (China)* 5,4
Total 4,9
Equinor* 4,7
Eni 4
BP -20,4
*Estatais: Pemex, México e Equinor, Noruega
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto de petróleo cru quanto de derivados, como o diesel. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia que funciona como um seguro contra perdas.