A expressão do secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, de que a Ceitec "fabricava Fuscas enquanto o mundo dirige BMWs" incomodou também a associação de funcionários da empresa.
Ao dar voz à outra parte, a coluna aproveitou para esclarecer o que, afinal, está acontecendo na fabricante de chips localizada em Porto Alegre enquanto faltam semicondutores no mundo.
Conforme Silvio Luís dos Reis Santos, presidente da ACCeitec, depois do decreto de extinção e antes da paralisação do processo pelo Tribunal de Contas da União (TCU), os funcionários da estatal chegaram a fazer uma força-tarefa para atender pedidos, porque ainda havia material disponível.
Nesse período, afirma, foram feitas etiquetas eletrônicas do tipo RFID (Radio Frequency Identity and IDentification), conhecidas ainda como tags, especialmente para veículos que passam direto pelo pedágio (a cobrança é feita pelo dispositivo).
A partir de janeiro, porém, a produção na Ceitec está totalmente paralisada, com funcionários fazendo apenas manutenção para não permitir que os equipamentos estraguem,
— Uma planta como essa não pode ser desligada. Precisa que circulem água, ar e produtos químicos. Se desligar, os equipamentos se degradam. Assim, fica pronta para produzir, se for necessário.
Sobre a comparação do secretário, Reis Santos pondera que "qualquer pessoa minimamente informada a respeito da indústria 4.0, tecnologia da informação e comunicações sabe que semicondutores não são sinônimos de processadores Intel ou AMD, mas componentes com milhares de aplicações" que não se restringem a computadores e smartphones.
— Cada uma dessas aplicações necessita de diversos tipos de componentes semicondutores que não são necessariamente feitos em fábricas de última geração, como Intel ou TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company). Existem no mundo várias com o mesmo nó tecnológico da Ceitec, como XFAB, ON Semiconductors, Silex, MNX, TowerJazz, Simpore e Ibsen Photonics. Seriam todas fábrica de Fuscas?
Conforme o presidente da associação dos funcionários, uma das causas do exame mais demorado no TCU, são, sim, o que chama de "falhas no estudo":
— A parte do terreno é apenas um item, não o único. O TCU fez vários questionamentos simples ao comitê de estudos do PPI (Programa de Parceiras de Investimentos), que foram parcialmente respondidos e colocados no processo como 'sigilosos'. Estão escondendo o quê? Inventar teorias sem fundamento ou jogar falácias para a torcida não fará que o TCU se desvie de seu dever constitucional de zelar pelo patrimônio público.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo