Mais um surto de demora no restabelecimento do serviço de eletricidade, poucos meses depois da privatização da área de distribuição da CEEE, a CEEE-D, provoca uma onda de reação dos que se opuseram à venda por convicção ou por interesse.
É legítimo, especialmente porque a compradora não está respondendo à altura do desafio que encarou. Na primeira entrevista à coluna após a posse, o primeiro indicado à presidência da empresa, Maurício Velloso, foi cobrado e se comprometeu exatamente a resolver o problema crônico da CEEE: a lentidão no restabelecimento do serviço.
— O plano é dar resposta rápida para a população. Sabemos que os investimentos que darão robustez ao sistema levam tempo, mas vamos ter medidas e dar velocidade de resposta — prometeu.
O presidente já mudou, mas a promessa foi feita em nome da empresa, portanto, deve se honrada. Mas é preciso refrescar a memória: ao ser privatizada, a CEEE-D tinha um passivo de R$ 7 bilhões, dos quais cerca de R$ 4 bilhões foram repassados à nova controladora. Vamos supor que a empresa não tivesse sido privatizada: de onde sairia o dinheiro para eventuais obras de reforço do sistema? Isso para não mencionar a ameaça de perda de concessão, o que poderia entregar o serviço de fornecimento de eletricidade em cerca de um terço do território do Estado à boa sorte dos gaúchos.
Outra memória que é preciso trazer ao debate é a qualidade do serviço prestado pela distribuidora pública de energia elétrica do Rio Grande do Sul: era a última colocada no ranking da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), conforme pode ser conferido na tabela abaixo. O quadro, atualizado em março de 2021, ainda não tem uma versão de todo o ano passado, que a coluna vai monitorar e compartilhar com os leitores.
A Equatorial conhecia o tamanho do desafio que tinha à frente quando se propôs a assumir a CEEE-D, tanto o financeiro quanto o técnico, como deixou claro Velloso:
— Sabemos que o Rio Grande do Sul também tem eventos intensos, como ciclones extratropicais. Vamos reforçar o plano de contingência para atuar em casos de falta de fornecimento de energia.
Desde a privatização, a conta de luz só subiu. Isso não ocorreu por força da desestatização, mas deveria ser uma obsessão da companhia: oferecer um serviço cuja qualidade seja do mesmo nível do preço que custa aos clientes. É regra básica de qualquer empresa privada. Nesse episódio, a Equatorial não está cumprindo uma tarefa primordial. É ruim para o consumidor, mas também é péssimo para a imagem da companhia.